23 milhões de brasileiros apostaram em 2024

Em 2024, 23 milhões de brasileiros acima de 16 anos fizeram algum tipo de aposta esportiva on-line, as chamadas bets. O número representa 15% da população do país, mostrando estabilidade em relação à edição anterior da pesquisa, de 2023, que indicava um percentual de 14% de apostadores. Os dados fazem parte da 8ª edição do Raio-X do Investidor Brasileiro, divulgada na terça-feira (29) pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), em parceria com o Datafolha (clique aqui para ler a pesquisa completa).

A pesquisa ouviu 5.846 pessoas com 16 anos ou mais, das classes A/B, C e D/E, nas cinco regiões do país. A coleta de dados foi feita nos dias 4 e 22 de novembro de 2024.

O levantamento ainda mostra que quase metade das pessoas que dizem apostar (47%) está endividada e 4 milhões (16%) consideram a aposta um tipo de investimento.

Em entrevista ao Jornal da CBN nesta manhã de quarta-feira (30), o superintendente de Sustentabilidade, Inovação e Educação da Anbima, Marcelo Billi, destacou que a saída para esse problema é a conscientização e educação financeira.

“Às vezes, as linguagens das bets induzem a pessoa a pensar nisso. Mas é um jogo que probabilisticamente está construído para as pessoas perderem. Não é possível você imaginar que você vai ter um retorno de longo prazo, que você pode analisar aquelas probabilidades e conseguir colocar aquilo na sua carteira”, disse.

Ele apontou que, embora não seja a maior parte das pessoas que pensam nas bets como investimento, “ainda assim a gente está falando de um número de 4 milhões de pessoas, que é mais gente do que investe em várias alternativas mais sofisticadas de investimento que poderia dar retorno para elas”.

Na avaliação dele, “só com muita conscientização será possível mitigar um pouco esse cenário”.

Raio x das bets: mais homens e geração Z na frente

A pesquisa mostra ainda que:

• Dois terços dos usuários de bets são do gênero masculino;
• 25% dos apostadores são da geração Z (16 a 28 anos);
• 21% são millennials (29 a 43 anos);
• 6% são geração X (44 a 63 anos);
• e 2% são boomers (acima de 64 anos).

Do total de entrevistados, 35% afirmaram que usam os aplicativos das bets uma ou mais vezes na semana, e 46% disseram que apostam raramente.

Em relação ao montante gasto por quem aposta com uma certa frequência, a pesquisa aponta que a média mensal de gastos com bets é de R$ 216. Entre os que usam os apps raramente, a média cai para R$ 102.

Quem aposta investe recursos?

A pesquisa mostrou ainda que a caderneta de poupança continua sendo tendência dos investidores que não investem em bets.

“A caderneta continua no pole position, ali está na frente. A boa notícia é que a caderneta vem perdendo espaço (…). As pessoas estão entendendo mais de finanças e de investimento e estão migrando da caderneta para outros tipos de investimento. Então, depois da caderneta, o grande interesse dos brasileiros são fundos de investimento, títulos privados, e títulos privados – a gente está falando de CDB, das letras, de todos esses títulos bancários que os brasileiros compram bastante, criptoativos, ativos digitais, já está nesses cinco maiores preferências dos brasileiros, e ações”, disse.

O superintendente da Anbima detalha que a migração da poupança para outras alternativas é muito mais forte entre a população mais jovem.

Já entre os brasileiros que apostam:

• 12% não têm reservas, e apostam em média R$ 236 ao mês;
• 16% economizam e não investem, e aposta R$ 184 ao mês;
• 11% investem na poupança, e gastam em média R$ 144 ao mês;
• 24% têm investimentos diversificados, e apostam em média R$ 241 ao mês.

Aqueles que não têm reservas financeiras ou só investem na poupança são os que mais buscam retornos rápidos com as apostas.

A segunda motivação foi ganhar uma grande quantia de dinheiro. Os apostadores que têm investimentos diversificados afirmaram que buscam as bets pela emoção de apostar e como uma forma de diversão.

Vício em apostas

A pesquisa também mostra que os entrevistados responderam a seis perguntas sobre os hábitos de apostas que apontam tendência ao vício.

O resultado apontou que 10% das pessoas que apostam têm tendência ao vício. O percentual representa 3 milhões de pessoas.

As pessoas com alta tendência ao vício têm, em média, 33 anos, 21% delas encaram bets como investimentos, e gastam em média R$ 683,64 ao mês com as bets.

Na outra ponta, a pesquisa indica que mais da metade (59%) está no nível mais baixo de tendência ao risco a ficarem viciadas.

Segundo o relatório, o número pode indicar que nem sempre a prática está associada a comportamentos compulsivos. Entretanto, os dados são autodeclaratórios e, por isso, indicam a forma como as pessoas se veem frente às apostas.

Entre os apostadores, 52% dizem que tentam recuperar as perdas apostando de novo. Quatro em cada dez se dizem culpados quanto à forma como jogam.

Empréstimos para apostar

A pesquisa também indica que 30% da amostra declarou apostar mais do que poderia perder, e 10% já recorreram a empréstimo ou venda de bens para continuar apostando.