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‘Abrindo espaços’, diz Davi Kopenawa sobre mestrandos Yanomami na Ufam



Davi Kopenawa Yanomami é uma liderança indígena do Estado de Roraima (Ricardo Oliveira/Cenarium)

23 de abril de 2025

Ana Pastana – Da Cenarium

MANAUS (AM) – O xamã e líder indígena Yanomami Davi Kopenawa participou nessa terça-feira, 22, na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em Manaus, de um evento promovido pelo Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA), no qual foi celebrada a defesa de mestrado de três indígenas da etnia Yanomami, de São Gabriel da Cachoeira (a 852 quilômetros da capital), interior do Amazonas. Essa é a primeira vez que indígenas desse povo vão defender teses de mestrado na universidade.

Na ocasião, a liderança indígena destacou, durante o encontro “Davi Kopenawa: Palavras de um Xamã Yanomami”, que os povos originários nunca pensaram em chegar onde os indígenas Odorico Xamatari Hayata Yanomami, Edinho Yanomami Yarimina Xamatari e Modesto Yanomami Xamatari Amaroko chegaram, em locais de ensino e pesquisa.

Davi Kopenawa em evento promovida pela Ufam, em Manaus (Ricardo Oliveira/Cenarium)

“Nós, Yanomami, nós nunca sonhamos, nunca pensamos, quando nós éramos pequenos, em ir à escola. E aqui, de Santa Isabel do Rio Negro, de São Gabriel da Cachoeira, os três […], eles sonharam grande: alma da floresta, sonharam grande: alma da nossa Terra Mãe, para seguir abrindo espaços para outros Yanomami entrarem. Eu estou muito contente com os meus primos que tiveram coragem”, disse a liderança indígena.

Kopenawa também afirmou que os indígenas devem aprender mais, mas sem esquecer de suas origens. “[Os indígenas] precisam aprender mais, mas não podemos esquecer nossa própria língua Yanomami. Vocês podem aprender mais e voltar para a aldeia, só não podem nos abandonar. O branco já está muito longe, agora é a nossa vez. Vamos correr junto com as nossas lideranças, com os ancestrais, com os xamãs, e o vento vai nos levar para mostrar a nossa força, a nossa sabedoria, a nossa inteligência”, afirmou.

Davi Kopenawa palestrou para docentes e discentes da Ufam (Ricardo Oliveira/Cenarium)

Davi Kopenawa é uma das principais vozes indígenas do País. Xamã, liderança política e presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), ele é reconhecido internacionalmente pela defesa dos direitos indígenas e pela proteção da floresta amazônica. Coautor das obras “A Queda do Céu” e “O Espírito da Floresta”, também detém o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Roraima (UFRR) e pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Defesas

De acordo com a professora doutora Iraildes Caldas, diretora do Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (IFCHS), a defesa dos indígenas Yanomami foge da dissertação tradicional. “A defesa, ela não vai ser uma dissertação escrita, um texto em in loco, denso, escrito. Vai ter um roteiro, mas a defesa vai ser com o produto Yanomami, por exemplo, o corpo de um deles, que está tratando da pintura Yanomami, vai apresentar dentro do próprio corpo dele todas as ênfases da arte Yanomami. Ele vai explicar para a banca o significado, a simbologia dessas nuanças que estão no corpo“, explicou.

Da esquerda para direita: o indígena Odorico Xamatari Hayata, o indígena Modesto Yanomami Xamatari Amaroko, a profª Drª Iraildes Caldas e o indígena Edinho Xamatari (Ricardo Oliveira/Cenarium)

O coordenador do programa, Caio Augusto Teixeira Souto, disse à CENARIUM que os indígenas foram afetados pela estiagem de 2023 e ficaram isolados por conta da seca. Foi quando ele e outro professor do curso se deslocaram até a comunidade onde o trio reside, para que eles não perdessem aulas.

Na seca de 2023, eles perderam o contato com o polo de São Gabriel [da Cachoeira] e lá, onde eles moram, a internet é ruim. Não tem muito contato e a gente conseguiu se comunicar e fomos até lá, eu e o professor Agenor, formado em Antropologia, nos deslocamos até lá por um mês para implementar essas bolsas, para complementar disciplinas que eles tinham perdido e foi um aprendizado para a gente também“, disse.

O coordenador do PPGSCA, Caio Augusto Teixeira Souto (Luiz André Nascimento/Cenarium)

A defesa do mestrado acontece nessa quarta-feira, 23, às 10h, 14h e 16h, no auditório Rio Solimões, no IFCHS, no Setor Norte da Ufam, onde os estudantes Odorico, Edinho e Modesto defendem suas dissertações, com a presença de Davi Kopenawa.

Dissertações

Os três educadores que vão defender suas dissertações são Odorico Xamatari Hayata Yanomami, Edinho Yanomami Yarimina Xamatari e Modesto Yanomami Xamatari Amaroko. Oriundos do município de Santa Isabel do Rio Negro (a 631 quilômetros de Manaus), no Alto do Rio Negro, eles têm graduação pela Ufam em Licenciatura Indígena – Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável – Yanomami, além de atuarem como professores do Ensino Básico em dois dos Xaponos (casa coletiva Yanomami), localizados no Rio Marauiá. Em suas comunidades, eles exercem uma forma de liderança, construindo pontes entre o saber tradicional e a formação escolar.

O ingresso no PPGSCA aconteceu em 2023, por meio de uma turma ofertada fora da sede em São Gabriel da Cachoeira. Com o apoio da Ufam, articulado à concessão de bolsas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), os mestrandos desenvolveram pesquisas focadas na ancestralidade de seu povo, abordando temas como música, cantorias, rituais xamânicos e ensino da língua materna Yanomami às crianças.

Leia também: Davi Kopenawa participa de evento sobre educação indígena na Amazônia
Editado por Adrisa De Góes
Revisado por Gustavo Gilona



Fonte: Agência Cenarium

Amazonas Repórter

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