O advogado Francisco Charles Garcia Júnior acusa a advogada Adriana Magalhães de extorsão (Composição: Paulo Dutra/Cenarium)
18 de abril de 2025
MANAUS (AM) – Após ser denunciado pela ex-recepcionista Marcella Nascimento Pinto, de 34 anos, sob suspeita do crime de estupro, o advogado Francisco Charles Garcia Júnior, de 43 anos, afirmou nessa terça-feira, 16, que está sendo vítima de extorsão. Ele acusou a advogada Adriane Magalhães, que responde pela defesa de Marcella, de querer “ganhar dinheiro ilicitamente” por meio da ex-funcionária que atuou no escritório de advocacia dele, localizado no bairro Adrianópolis, na Zona Centro-Sul de Manaus.
Em nota divulgada em suas redes sociais, Francisco Garcia Júnior disse que lhe foi pedido R$ 500 mil para “silenciar a suposta vítima de assédio” e que ele foi alvo de ameaças caso não pagasse o valor. O advogado também mencionou que Adriane tenta “alavancar a sua candidatura à vaga de desembargadora reservada à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM)”.
Sobrinho do ex-prefeito de Parintins (AM) Frank Bi Garcia, Francisco Júnior foi denunciado à Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), em 7 de abril de 2025, sob suspeita de estupro contra Marcella, que era funcionária dele. De acordo com o Boletim de Ocorrência (BO), o homem chegou a praticar os abusos sexuais por duas vezes contra a vítima, que foi ameaçada com arma de fogo.
“Não cedi à extorsão e não cederei à chantagista. Resolvi enfrentar a advogada que se utiliza de uma causa nobre de defesa das mulheres para alcançar sucesso profissional e financeiro. Optei por levar o caso ao conhecimento da Polícia Civil para apurar o delito de extorsão pelo qual eu e a minha esposa estamos sendo vítimas“, disse Francisco Garcia Júnior em um trecho da nota.
O advogado disse, ainda, que entregou às autoridades policiais áudios, os quais demonstram que Adriane Magalhães teria feito pressão para firmar “um acordo financeiro para impedir a divulgação dos fatos“. A CENARIUM procurou a PC-AM para pedir posicionamento sobre a suposta denúncia mencionada pelo advogado para apurar o crime de extorsão. Até o momento, não houve retorno.
Advogada rebate acusações
À reportagem, Adriane Magalhães disse que a alegação de que ela ou a vítima tentaram extorquir o suspeito “configura uma nítida tentativa de intimidação” por parte do advogado, que “tenta desviar o foco da gravidade dos fatos por meio de estratégias que visam apenas descredibilizar a vítima e enfraquecer a busca por justiça”.
A advogada afirmou que chegou a procurar a esposa de Francisco Garcia Júnior após ser comunicada da suspeita do crime. Ela, no entanto, negou ter solicitado qualquer valor. “Em nenhum momento foi solicitada qualquer quantia a ela ou a Charles. Minha postura sempre foi pautada pela transparência e pela legalidade”, disse. Adriane apontou que o advogado do suspeito chegou a propor dinheiro em uma conversa com a vítima.
“Diferente do que tenta se fazer crer, foi o advogado do próprio Charles, Sr. Lúcio, quem procurou minha cliente e a mim na qualidade de patrona após o registro do boletim de ocorrência, propondo o pagamento de R$ 50 mil, supostamente para ‘resolver questões trabalhistas’. Reafirmo que jamais houve qualquer proposta de acordo no âmbito criminal. O crime de estupro é de ação penal pública incondicionada e não comporta tratativas extrajudiciais“, disse. Veja a nota na íntegra ao final desta reportagem.
Entenda o caso
Marcella Nascimento Pinto denunciou o advogado Francisco Charles Garcia Júnior pelo crime de estupro em 7 de abril de 2025, conforme consta no Boletim de Ocorrência (BO) registrado na Delegacia Especializada em Crimes contra a Mulher (DECCM). Segundo a mulher, os abusos ocorriam quando o advogado solicitava auxílio dela no escritório de advocacia dele, em Manaus.
“Ele escondia o meu celular, porque eu não podia gravar nada, não podia me defender. Nesse dia que eu subi [para o espaço onde Francisco Júnior estava], ele fez eu tocar nas genitálias dele“, disse a vítima nesta quarta-feira, 16. Após ela começar a chorar, o suspeito teria pedido para que a então recepcionista lavasse o rosto no banheiro.
Além do BO, as autoridades também solicitaram ao Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) o deferimento de medida protetiva em favor da vítima. Entre as solicitações feitas pela PC-AM estão: proibição de aproximação da vítima, familiares e testemunhas, e proibição de contato com a vítima e testemunhas por qualquer meio.
“Todas as vezes que eu subia, eu tinha medo de ele me matar, porque tinham dois revolveres pretos e um pires com um pozinho. O meu maior medo era o de morrer, porque eu sou mãe solo e precisava do meu trabalho, eu tinha que manter a minha casa e a minha filha“, declarou a vítima.
Marcella também pediu investigação criminal contra o advogado Francisco Garcia Júnior “pela prática de da infração penal estupro, autorizando a realização do procedimento policial com base nos fatos narrados no Boletim de Ocorrência”. Após a formalização do requerimento, a PC-AM segue o procedimento padrão adotado e passa a investigar o suspeito.
Nota na íntegra:
“Na condição de advogada da vítima de estupro Marcela, venho a público esclarecer informações distorcidas e ataques levianos promovidos pelo Dr. Charles Garcia, que tenta desviar o foco da gravidade dos fatos por meio de estratégias que visam apenas descredibilizar a vítima e enfraquecer a busca por justiça.
Desde 2001, conheço Charles Garcia no âmbito acadêmico e social assim como Juliana que inclusive almoçávamos semanalmente com outras colegas advogadas. A proximidade entre nossas famílias nunca impediu que eu agisse com ética, responsabilidade e firmeza diante de qualquer denúncia grave, especialmente quando se trata de um crime sexual.
Ao tomar conhecimento do relato da vítima, meu dever profissional e humano foi agir com empatia e diligência. Procurei a esposa de Charles, Juliana, uma mulher pela qual sempre nutri amizade, respeito e admiração, inclusive por sua trajetória de superação pessoal. Em nenhum momento foi solicitada qualquer quantia a ela ou a Charles. Minha postura sempre foi pautada pela transparência e pela legalidade.
Diferente do que tenta se fazer crer, foi o advogado do próprio Charles, Sr. Lúcio, quem procurou minha cliente e a mim na qualidade de patrona após o registro do boletim de ocorrência, propondo o pagamento de R$ 50 mil, supostamente para “resolver questões trabalhistas”. Reafirmo que jamais houve qualquer proposta de acordo no âmbito criminal. O crime de estupro é de ação penal pública incondicionada, e não comporta tratativas extrajudiciais.
A alegação de extorsão apresentada dias depois, em 14/04, configura uma nítida tentativa de intimidação, típica de quem busca inverter os papéis, tratando a vítima como culpada e tentando calar sua voz. Questiono: se a suposta extorsão realmente ocorreu, por que Charles e sua esposa não a denunciaram imediatamente? Por que só após dez dias da vítima prestar depoimento na delegacia e o caso ganhar visibilidade?
Esse tipo de manobra, infelizmente comum em casos de violência sexual, tenta transformar o agressor em vítima e deslegitimar o discurso da mulher que denuncia. Não aceitaremos esse tipo de narrativa, nem permitiremos que estratégias midiáticas obscureçam a realidade dos fatos.
As provas que confirmam a versão da vítima estão sendo devidamente apresentadas às autoridades competentes. Estamos convictos de que a verdade prevalecerá e que o sistema de justiça saberá distinguir os fatos das tentativas de manipulação.
Reafirmo meu compromisso com a legalidade, com a ética e, acima de tudo, com a luta pelo respeito à dignidade das mulheres. Seguiremos firmes na defesa da vítima e de todas aquelas que têm coragem de romper o silêncio.”
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Fonte: Agência Cenarium