Logos da Le Monde Diplomatique Brasil e da Cenarium (Composição: Lucas Oliveira/Cenarium)
26 de março de 2025
Fabyo Cruz – Da Cenarium
BELÉM (PA) – A reportagem especial “COP para quem?”, publicada na versão digital/impressa da CENARIUM, ganhou repercussão internacional ao ser citada em um artigo do Le Monde Diplomatique Brasil, versão nacional do prestigiado jornal francês.
O texto, intitulado “Nada de novo no Front: as contradições da COP30”, assinado pelo pesquisador Ricardo Kaate Lima, critica a falta de valorização da população amazônica na organização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em novembro, em Belém (PA).
“A organização da COP30 também dificulta a participação de lideranças dos povos tradicionais, como quilombolas, extrativistas e indígenas, como aponta a Revista Cenarium”, destaca o artigo publicado no último dia 12 de março.
A reportagem da CENARIUM foi uma das primeiras a trazer a preocupação de comunidades tradicionais sobre a falta de espaço para participação ativa no evento. Na matéria, lideranças da Amazônia expressam temor de que a COP30 se torne apenas um palco para acordos econômicos, excluindo aqueles que vivem e protegem a floresta.
No artigo, Ricardo Kaate Lima denuncia que essa exclusão reflete um “colonialismo interno”, que perpetua a ideia de que a população amazônica não tem capacidade de participar das discussões globais sobre o clima.
“Infelizmente, nada de novo sob o sol nos processos históricos regionais. Quando observamos a história da região, notamos que as decisões que impactam a vida dos povos regionais sempre foram tomadas por bases ideológicas que ignoram as demandas populares ou por pessoas que não conhecem as particularidades regionais”, afirma o pesquisador.
Ele também destaca que grande parte da própria população da região acaba absorvendo essa lógica excludente. “Há uma baixa estima em nós, amazônidas. Acreditamos que não somos capazes de decidir sobre o nosso próprio destino. Preferimos acreditar nas mistificações criadas sobre nós. Recusamos nossa própria cultura e história para abraçar tudo o que é produzido no Sudeste como exemplo de alta cultura. Nascemos de costas para o igarapé e de frente para o concreto”, declara.
O pesquisador conclui seu artigo defendendo que não há futuro para a Amazônia e para o mundo sem uma reforma completa do sistema produtivo. Para ele, sem essa transformação, eventos como a COP se tornam apenas discursos vazios diante da crise climática.
“As populações tradicionais estão aqui na Amazônia há, pelo menos, 12 mil anos. Conhecem a região melhor que qualquer um. Devemos ouvi-los, aprender com eles e seguir seus conselhos. Sem isso só haverá a aridez de um mundo morto. Ailton Krenak está certo: O Futuro é Ancestral“, conclui.
Sobre a reportagem
A COP, ou Conferência das Partes, é o principal fórum de decisão da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), reunindo, anualmente, delegados de países signatários
para debater e implementar ações voltadas à redução das emissões de gases de efeito estufa.
Este ano, pela primeira vez, o Brasil sediará a conferência, trazendo atenção internacional para o País que abriga a maior parte da floresta amazônica, e criando um palco de grande importância para que os povos amazônicos se posicionem nas decisões político-ambientais e sociais.
A reportagem “COP para quem?” destacou a opinião de lideranças indígenas e ambientalistas sobre os desafios e contradições da conferência climática da ONU. Entre elas, está a indigenista Neidinha Suruí, fundadora da Associação Kanindé, que atua na defesa de mais de 52 etnias indígenas na Amazônia, e a ativista Alessandra Korap, que luta pela educação indígena no Pará.
A reportagem também ouviu Ângela Mendes, ativista socioambiental e filha de Chico Mendes, que alertou para o domínio de grandes indústrias nos debates climáticos globais.
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Editado por Marcela Leiros
Revisado por Gustavo Gilona
Fonte: Agência Cenarium