No final de setembro, NASA e SpaceX lançaram a missão que irá trazer de volta ao planeta Terra os dois astronautas que ficaram presos na Estação Espacial Internacional (ISS em inglês) após problemas na Starliner, produzida pela Boeing. Esse resgate poderia muito bem não acontecer se há uma década atrás a NASA não mudasse de última hora um certo contrato.
O fracasso da Starliner
Em 5 de junho, a Starliner, da Boeing, decolou com os astronautas da NASA Butch Wilmore e Sunni Williams para uma “viagem” relativamente curta. Eles deveriam ficar na ISS apenas oito dias, no entanto, a nave permaneceu ancorada na estação por três meses enquanto as equipes em terra debatiam se deveriam ou não devolver a tripulação a bordo da problemática Starliner.
Durante a viagem à ISS, cinco dos propulsores da espaçonave falharam e ela desenvolveu vários vazamentos significativos de hélio, um dos quais foi identificado antes da decolagem. Finalmente, e depois de muito debate, a NASA concordou em chamar a Starliner de volta à Terra, mas sem tripulantes. Já os dois astronautas voltarão a bordo de um Dragon, da SpaceX.
Naturalmente, agora temos dados que não poderiam ser previstos há uma década, mas considerando o que aconteceu, escolher a Boeing como seu único parceiro comercial teria sido uma decisão questionável por parte da NASA. Na altura, porém, a Boeing era a opção mais fiável, enquanto a SpaceX, liderada por Elon Musk, era uma novidade que ainda não tinha tido oportunidade de provar o seu valor.
Isso aconteceu em 2014 e, naquele momento da história espacial, a NASA refletia sobre um contrato que definiria a corrida espacial dos próximos anos. Em causa estava o contrato no âmbito do Programa de Tripulação Comercial da agência espacial para desenvolver naves capazes de transportar tripulação e carga até à Estação Espacial Internacional.
História por trás da história
Aparentemente, de acordo com Berger, os funcionários da NASA estavam claramente inclinados para a Boeing, a ponto de redigir os contratos, dando-lhe todo o orçamento da agência para tripulação comercial, e deixando a SpaceX fora da equação. No livro Reentry, fontes dizem que durante uma reunião de conselheiros de voos espaciais e altos funcionários da NASA, a maioria escolheu a Boeing em vez da SpaceX.
Houve outra razão puramente econômica, claro. A NASA também decidiu conceder um contrato a uma única empresa em vez de duas devido ao seu orçamento apertado. Como Phil McAlister, diretor do Programa de Tripulação Comercial da NASA, disse a Eric Berger: “Na verdade, não tínhamos orçamento para duas empresas na época. Ninguém pensava que íamos premiar duas”.
Hoje sabemos que os contratos foram para as duas empresas, mas isso esteve muito perto de não acontecer. Aparentemente, um conselho de avaliação classificou as empresas com base em três critérios: no preço, na aptidão para a missão e no desempenho passado. A SpaceX fez uma oferta menor, de US$ 2,6 bilhões, enquanto a Boeing pediu US$ 4,2 bilhões.
Quanto às outras duas categorias, a Boeing superou em muito a SpaceX. A Boeing recebeu uma classificação “excelente” pela sua adequação à missão, ou seja, pela sua capacidade avaliada de transportar tripulantes com segurança, enquanto a SpaceX recebeu uma classificação “muito boa”. Além disso, a Boeing também obteve uma classificação “muito alta” com base em seu desempenho anterior, enquanto a SpaceX recebeu uma classificação “alta”.