Senador Plínio Valério (Agência Senado)
20 de março de 2025
Ana Cláudia Leocádio – Da Cenarium
BRASÍLIA (DF) – Entidades de defesa dos direitos da mulher se manifestaram contra a declaração do senador Plínio Valério contra a ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva, considerando as falas um ato de violência contra as mulheres, de política de gênero e de raça.
Em evento da Federação do Comércio do Amazonas (Fecomércio-AM), realizado no dia 13 deste mês, o senador amazonense, ao receber a Medalha do Mérito Comercial do Amazonas 2025, fez declarações contra a ministra por causa da BR-319 e, no meio de sua fala, disse: “Imagina o que é tolerar a Marina por 6 horas sem enforcá-la”.
O Fórum Permanente de Mulheres de Manaus repudiou, em nota pública, as falas do senador amazonense, considerando-as “uma afronta inaceitável aos princípios democráticos e um ato de violência política de gênero e raça”.
A nota, assinada por 18 entidades, afirma ainda que o “discurso misógino pode ser configurado enquanto crime, conforme a Lei nº 14.192/2021, que tipifica a violência política contra a mulher”. “Além disso, se enquadra nos crimes de injúria (Art. 140 do Código Penal), incitação ao crime (Art. 286 do Código Penal), apologia ao crime (Art. 287 do Código Penal) e abuso de autoridade (Lei nº 13.869/2019, Art. 33)”, afirmam as entidades.
Além de repudiar, o Fórum promete adotar medidas junto à Procuradoria-Geral da República (PGR) para que apure e responsabilize o senador Plínio Valério, com as sanções legais cabíveis.
“O silêncio diante desse tipo de violência política é cúmplice da perpetuação do machismo e do racismo nas estruturas de poder. Às mulheres, não será imposto o medo. Seguiremos lutando por um ambiente político justo, livre de violência e discriminação!”, finalizam as entidades.
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A presidente da União Brasileira de Mulheres (UBM), Vanja Andréa, declarou à CENARIUM que a fala do senador Plínio Valério “é um reflexo da escalada da violência contra as mulheres no Brasil, onde o estado que ele representa, segundo pesquisa recente, ocupa o terceiro lugar em violências praticadas contra as mulheres”.
“Não nos cabe aqui fazer reflexões sobre o papel que ele deveria cumprir no Parlamento, até mesmo porque nunca o vimos em ações que pudessem expressar sua dedicação ao seu Estado. E hoje quando vejo sua desenvoltura em exercício de misoginia contra a ministra Marina, fica nítido o quanto homens como ele se sentem livres para manifestarem sua natureza machista e insana”, afirmou dirigente.
Para Vanja, “a banalização da violência contra as mulheres praticada por um senador da República é um péssimo exemplo e sinalização para o Brasil e para o cumprimento das leis. Ele quebra de decoro parlamentar e desrespeita a todas nós. Esperamos que o Senado não se omita, o silêncio sempre favorece os agressores, nunca as vítimas”, concluiu.
Reprimenda no Senado
Na tarde desta quarta-feira, Plínio Valério tomou uma reprimenda do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AC), que considerou as falas do colega infeliz e disse esperar que o senador do Amazonas pedisse desculpas à ministra e recompusesse a frase infeliz.
“Então, essa era uma fala do alto da Presidência do Senado. Tenho certeza de que falo em nome de todo o Senado da República, do Congresso Nacional. A gente tem o direito de falar qualquer coisa, a gente tem o direito e o voto de divergir, de votar de uma maneira ou de outra, mas uma fala dessa foi muito infeliz, e eu tenho certeza absoluta de que o meu irmão, meu amigo Senador Plínio Valério vai fazer referência e corrigir esse episódio dessa fala”, disse Alcolumbre.
As senadoras da Bancada Feminina elogiaram a postura de Alcolumbre e ressaltaram o peso de palavras ofensivas, que estimulam ainda mais a violência contra as mulheres, principalmente vindas de uma autoridade da República. A senadora Eliziane Gama pediu que Plínio se desculpasse com a ministra Marina, o que foi recusado.
A líder da Bancada Feminina do Senado, Leila Barros (PDT-DF), levantou-se exaltada e falou que o episódio mostra “a banalização da forma de tratamento com relação à mulher, seja ela ministra, seja ela uma diarista, é como se trata”. Ela disse, ainda, que os políticos precisam dar o exemplo de como tratar e falar das mulheres neste País, principalmente dentro do Senado.
Barros disse não querer saber o contexto em que as pessoas falam contra as mulheres, “se é numa brincadeira, se é numa piada, numa roda de amigos ou se é fazendo um discurso”. “Não é normal. Não é normal esse tipo de comportamento! Isso é inaceitável! Figuras públicas, pessoas, seja um presidente, seja um senador, seja um advogado, seja um mecânico; qualquer homem, qualquer cidadão neste país tem que respeitar a mulher. Não se pode tratar uma mulher como a gente anda tratando. Por favor!”, disse.
Senador disse não se arrepender
O senador subiu à tribuna para se defender e disse estar triste pela forma como Alcolumbre se dirigiu a ele sem ouví-lo primeiro. Ele justificou suas declarações com a revolta pela falta de liberação da obra da BR-319, pois ele culpa Marina pelo não asfaltamento da rodovia, devido aos entraves ambientais.
No Conselho de Ética do Senado nenhuma reclamação foi protocolada contra o senador.
Fonte: Agência Cenarium