Convocada pelo pastor Silas Malafaia, a caminhada começou por volta das 16h30 e terminou uma hora depois, após o discurso do ex-mandatário(Composição: Paulo Dutra/CENARIUM)
07 de maio de 2025
Ana Cláudia Leocádio – da Cenarium
BRASÍLIA (DF) – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participou da caminhada pela anistia dos condenados pelos ataques aos prédios dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro de 2023, em cima de um trio elétrico, e endossou os discursos dos demais correligionários para que o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), coloque para votação a urgência do projeto que tramita na Casa. Convocada pelo pastor Silas Malafaia, a caminhada começou por volta das 16h30 e terminou uma hora depois, após o discurso do ex-mandatário.
Vestidos com camisas da seleção brasileira de futebol, empunhando cartazes com fotos de alguns presos e condenados, além de bandeiras do Brasil, de Israel e até dos Estados Unidos, os participantes da caminhada concentraram-se atrás na área atrás da Torre de TV, no Centro de Brasília, para em seguida descer o Eixo Monumental até a Esplanada dos Ministérios.
Durante o percurso, os parlamentares da base de apoio ao ex-presidente se revezaram ao microfone pedindo pela anistia aos condenados pelos ataques que vandalizaram os prédios do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF), na tarde de 8 de janeiro de 2023. Eles rechaçaram qualquer projeto que proponha a redução das penas no lugar da anistia total.
Dados de março deste ano, divulgados pelo STF, mostram que já foram condenadas mais de 500 pessoas, seja por incitação, execução ou financiamento dos atos. Neste ano, 21 foram tornados réus por participarem dos núcleos principais, cujas ações favoreceram os ataques de 8 de janeiro, e tem no ex-presidente Bolsonaro o líder da organização, segundo a Procuradoria Geral da República (PGR).
Três dias após receber alta hospitalar, Bolsonaro decidiu participar do ato pró-anistia desta quarta-feira, acompanhado da mulher, Michelle. Ela chamou a caminhada de profética e defendeu a anistia total dos presos, porque disse acreditar que não houve crime dessas pessoas. Ao chamar o marido para discursar, ela o chamou de “popcorn e ice cream”. “Vem cá popcorn, ice cream, vem aqui”, falou arrancando risadas do público.
Último a discursar no trio elétrico e encerrar o ato, Bolsonaro defendeu a autonomia do Parlamento para decidir sobre anistia sem a interferência do
Judiciário. “Anistia é um ato político e privativo do Parlamento Brasileiro. O Parlamento votou, ninguém tem que se meter em nada. Tem que cumprir a vontade do Parlamento, que representa a vontade da maioria do povo brasileiro”, afirmou.
O ex-presidente exaltou seu governo (2019-2022), agradeceu aos presentes pelos mandatos que o levaram à Presidência da República e pediu que não percam a esperança. “Nós vamos continuar lutando, não vamos baixar a cabeça para ninguém. Se queremos democracia, se queremos liberdade, se queremos uma pátria melhor para todos, todos nós somos responsáveis pelo futuro do nosso país”, disse, reiterando que não obsessão por poder.
“Eu não sei como alguns poderosos, fazendo tanta maldade, conseguem dormir uma noite sequer dessa vida. Vamos acreditar no país, vamos acreditar em nós mesmos, vamos nos fortalecer e vamos vencer. Eu não esperava um público como esse em Brasília, no meio de uma semana, ninguém esperava. A presença de vocês aqui é a certeza de que estamos no caminho certo”, declarou sob aplausos dos participantes da caminhada.
Elogio ao ministro Fux
Michelle Bolsonaro utilizou uma decisão do ministro do STF, Gilmar Mendes, para mandar soltar a então esposa do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, Adriana Anselmo, levando em conta ser mãe e ter que cuidar dos filhos, e comparou com a condenação da cabelereira Débora, por 14 anos de detenção e que agora cumpre prisão domiciliar. “Por que que a balança só pesa para um lado?”, questionou.
Tanto Michelle quanto Silas Malafaia foram só elogios ao ministro do STF, Luiz Fux, que foi voz dissonante sobre as penas fixadas aos réus do 8 de janeiro. “O ministro Fux acaba com a farsa do golpe. O ministro Fux desmascarou o ministro Alexandre de Moraes. Ele disse: não tem provas de golpe de Estado. Não tem prova de associação armada. Não tem prova de abolição violenta de estado democrático”, gritou Malafaia ao microfone.
Malafaia, assim como Bolsonaro, defende a autonomia do Legislativo para decidir sobre a anistia. “Julgamento pertence ao Judiciário. Anistia é exclusiva do Poder Legislativo. STF não pode meter o bedelho. O STF pode condenar a 200 anos se quiser. Acabou. A partir daí é Congresso Nacional. Senhor deputado Hugo Motta, senhor senador Alcolumbre, anistia já!”, bradou.
O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, estimou que pelo menos 10 mil pessoas participaram do ato, que foi chamado de “Caminhada Pacífica pela Anistia Humanitária”.
Situação do projeto
Na última terça-feira, 6, o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), disse que aguarda uma definição do presidente Hugo Motta sobre o pedido de urgência para analisar o projeto da anistia, pois existe uma discussão sobre mudança no texto.
O PL 2858/2022, de autoria do deputado Vitor Hugo (PL-GO), prevê o perdão não apenas a quem participou dos atos de 8 de janeiro, mas de manifestações após as eleições de 2022 e expande seus efeitos até a data de sua publicação. Para alguns analistas jurídicos, esse viés amplo poderia beneficiar Bolsonaro e seus aliados que já se tornaram réus no STF.
Embora o pedido de urgência tenha conseguido o número de assinaturas necessárias para ser protocolado, cabe ao presidente da Câmara, Hugo Motta, colocá-lo na pauta de votação. Por enquanto, ele não sinaliza qualquer intenção da fazê-lo. Um parlamentar do PL disse, ao final da caminhada à Cenarium, que acha difícil o projeto ser pautado.
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Fonte: Agência Cenarium