Desde cedo, na escola, aprendemos que o Universo surgiu a partir do Big Bang, uma explosão gigantesca que provocou a expansão dos cosmos. A teoria é consenso entre cientistas atualmente, mas o nome “Big Bang” nem sempre agradou a todos.
O termo surgiu na década de 1950 e, por muitos anos, foi alvo de polêmicas. O criador foi Fred Hoyle, um astrônomo britânico que ficou conhecido por explicar eventos complexos de forma simplificada.
Vamos voltar na história para entender o caso.
Universo está expandindo até hoje
Na década de 1910, Albert Einstein publicou a chamada teoria geral da relatividade, que revolucionou o entendimento sobre o espaço, tempo e gravidade.
Muitos cientistas ficaram fascinados pela teoria e chegaram a suas próprias conclusões. O padre católico e físico belga Georges Lemaître descobriu que as propostas de Einstein significavam que o Universo estava se expandindo.
Ele não foi o único. O matemático russo Aleksandr Fridman e o astrônomo americano Edwin Hubble (que dá nome ao telescópio da NASA) também concordaram com isso.
Porém, se o Universo está se expandindo, onde tudo começou? Ele teria que partir de algum ponto menor antes de ficar maior, certo? Pensando nisso, na década de 1930, Lemaître criou a “hipótese do átomo primordial”, que dizia que o Universo surgiu a partir de um único átomo. Em seguida, esse evento teria gerado radiação no cosmos.
Até aí tudo bem. Em 1948, o astrofísico soviético-americano George Gamow e os colegas Ralph Alpher e Robert Herman apresentaram uma nova versão sobre a expansão desse átomo. Eles diziam que a criação do Universo foi resultado de um clarão de energia a partir de um gás primordial muito denso, que teria “cozinhado” as partículas básicas em elementos químicos.
No mesmo ano, o astrônomo britânico Fred Hoyle e seus amigos, o astrofísico Thomas Gold e o matemático Hermann Bondi, tiveram outra ideia. Eles especularam que o Universo não tinha nem início, nem fim, mas se expandia conforme fosse reabastecido com matéria nova. Se isso estivesse certo, a matéria poderia ser criada continuamente no tempo e no espaço, o que significaria que o Universo teria que se expandir para acomodá-la.
Big Bang alimentou rivalidade
Até aí, ninguém ainda tinha se referido ao início de tudo como “Big Bang”. Foi só em 1949, quando Hoyle foi convidado a dar uma palestra sobre sua teoria, que ele proferiu essas palavras.
Após explicar sua hipótese e a a teoria de Gamow, ele disse o seguinte:
Essas teorias se baseiam na hipótese de que toda a matéria do Universo foi criada em um grande estrondo em um momento específico do passado remoto.
Fred Hoyle
O “grande estrondo”, em inglês, fica “big bang”.
Inicialmente, ele não tinha intenção de cunhar o termo. Foi apenas uma explicação simplificada, pelas quais ele era conhecido.
No início, a expressão não chamou muita atenção para a ciência. O termo foi impresso na revista The Listener, da BBC, que reportou sobre a palestra, e em transcrições de outras palestras de Hoyle, mas ficou limitado à imprensa.
Segundo o historiador da ciência dinamarquês Helge Kragh, à BBC, físicos e astrônomos ignoraram o termo. Alguns deles, como o próprio Gamow, não gostaram da descrição: “não gosto da palavra big bang; nunca chamo de big bang porque é meio clichê”, disse ao historiador de ciência Charles Weiner, em 1968.
Naquela época, o nome era o de menos. O que inspirou a rivalidade de Gamow e Hoyle foram suas convicções opostas sobre o início de tudo.
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Hoyle gerou polêmicas até a morte
Basicamente, Hoyle e Gamow tinham teorias opostas – e ambos falavam publicamente sobre isso. A rivalidade se tornou natural.
Hoyle até chegou a se aprofundar em sua teoria:
- Ele desenvolveu a ideia de nucleossíntese, dizendo que, no interior das estrelas, sob altas pressões e temperaturas, núcleos de hidrogênio se fundiram para formar núcleos de hélio. Depois, se combinaram para formar berílio. Depois, para formar carbono, oxigênio, ferro… e aí por diante;
- Essa hipótese só estaria certa se, nas mesmas estrelas, houvesse carbono em um estado muito especial que ainda não havia sido observado;
- Ele insistiu na teoria, até que se uniu ao físico americano William Fowler e acabaram encontrando esse carbono.
Houve um problema: em 1964, os astrônomos Arno Penzias e Robert Wilson detectaram radiofrequência no céu (que fiaria conhecida como radiação cósmica) e confirmaram de vez a hipótese do Big Bang. Em 1965, o jornal The New York Times publicou na primeira página: “Sinais sugerem ‘Big Bang’ do Universo”.
Curiosamente, isso não significou que a teoria da nucleossíntese estava errada. Posteriormente, ela foi incorporada à explicação do Big Bang.
Anos depois, na década de 1980, o colega de Fred Hoyle, Fowler, recebeu o Prêmio Nobel de Física por sua pesquisa sobre a origem dos elementos que compõem o Universo. E não dividiu o prêmio com Hoyle.
No final das contas, Hoyle nunca se retratou sobre suas opiniões quanto ao Big Bang e, inclusive, levantou novas teorias. Por exemplo, ele disse que as moléculas que deram origem à vida foram transportadas por outras partes do cosmos (algo que é estudado até hoje).
Outra teoria associou a passagem de meteoros com as epidemias na Terra. Essa teoria foi considerada fictícia e rapidamente descartada. Mas não foi à toa: Hoyle se tornou autor de 19 romances de ficção científica, além de peças de teatro e roteiros para TV.
Apesar de ter uma carreira extensa, Fred Hoyle é até hoje lembrado como o homem que criou o termo Big Bang. Ele faleceu em 2001.
Fonte: Olhar Digital