A pouco mais de duas semanas da eleição, as campanhas de Da- vid Almeida (Avante) e de Roberto Cidade (União) antecipam o eventual confronto entre os dois candidatos no segundo turno do pleito com uma saraivada de críticas e denúncias recípro- cas no horário eleitoral gratuito, nas redes sociais, nas ruas e até nas Casas Legislativas (Câmara Municipal de Manaus – CMM – e Assembleia Legislativa do Ama- zonas – ALE-AM).
O embate direto entre o atual prefeito de Manaus e o presidente da ALE-AM se acentuou após Cidade começar a figurar em segundo lugar nas sondagens de intenção de voto, ultrapassando o candidato Amom Mandel (Cidadania), agora em terceiro. David Almeida lidera a corrida eleitoral em todos os levantamentos.
A disputa Almeida x Cidade coloca na arena uma briga entre as duas mais poderosas máquinas públicas do Amazonas. O atual gestor tem a Prefeitura de Manaus e o apoio dos senadores Omar Aziz (PSD) e Eduardo Braga (MDB), aliados do governo Lula, embora o PT tenha o candidato Marcelo Ramos na disputa. Já Roberto Cidade, além de presidir o Legislativo estadual, conta com a parceria do governador Wilson Lima (União). Tem também o amparo do presidente da CMM, vereador Caio André, que pertence ao seu partido.
Nas inserções veiculadas pelas duas campanhas, ambos têm se dedicado a atacar um ao outro. David concentra a artilharia em associar Roberto Cidade a Wilson Lima, destacando que problemas apontados pelo candidato do União são também de competência estadual.
Uma das peças do Avante classifica a segurança pública como uma “crise” e “o problema mais grave de Manaus. Outra afirma que a superlotação em hospitais é responsabilidade do governo estadual. Neste último vídeo, David Almeida chama Wilson Lima de “chefe” de Roberto Cidade.
Já o candidato do União ecoa em todas as mídias que o prefeito não cumpriu promessas de campanha da eleição anterior e que tem um jeito “arrogante”. Em uma peça de propaganda, Cidade coloca uma série de vídeos em que David Almeida subiu o tom com jornalistas que faziam perguntas críticas à gestão municipal. Outra maneira de atacar o atual prefeito é chamá-lo de ‘pintor’, algo que se repete nas inserções.
“O prefeito de Manaus e o presidente da ALE-AM estão brigando antes do segundo turno e, claro, considerando a provável hipótese de os dois estarem nesse segundo turno. Isso não é novidade na política amazonense”, avalia o cientista político e fundador da Action Pesquisas, Afrânio Soares.
Racha
Ele destaca que David Almeida e Roberto Cidade já estiveram no mesmo palanque, em 2022, quando apoiaram a reeleição do governador Wilson Lima. Aliás, a disputa atual entre o prefeito e o presidente da ALE-AM passa, também, por um racha entre David Almeida e o governador do Amazonas.
Em 2022, o prefeito indicou Tadeu de Souza (Avante) como vice de Wilson Lima. O relacionamento, porém, sempre mos- trou sinais de desalinhamento entre ambos. Naquela ocasião, era certo o apoio do governador à reeleição do prefeito, mas essa certeza foi reduzida ao longo do tempo até Roberto Cidade ser lançado pré-candidato pelo partido do governador e após David Almeida não aceitar a condição de Wilson Lima para apoiar a sua reeleição. Segundo o prefeito, o governador queria indicar Tadeu de Souza como vice para a prefeitura, o que retiraria um aliado de David Almeida do governo estadual.
“Isso também não é novidade na política. Lá atrás, tivemos Gilberto Mestrinho e Josué Filho em disputa. Teve tudo o que você vê hoje, baixaria, acusações. Tempos depois, eles se aliaram contra o Amazonino. O ex-prefeito Arthur Neto, em ao menos duas ocasiões, se alinhou aos seus maiores inimigos, o Amazonino e o Eduardo Braga”, comenta Afrânio Soares.
CPIs na CMM viram arma de campanha
Na quarta-feira, a 18 dias do primeiro turno da eleição, os vereadores aprovaram a aber- tura de duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) para investigar a gestão David Almeida. O prefeito não tem maioria na Câmara, comandada pelo vereador Caio André, apoiador de Roberto Cidade.
A primeira CPI, que já possuía assinaturas suficientes desde abril, é para investigar a suspeita de repasses em dinheiro vivo pela Secretaria de Comunicação a portais de notícias. A prefeitura nega a veracidade de um vídeo que teria registrado o repasse. A segunda CPI deve apurar contratos da noiva do prefeito, Izabelle Fontenelle, e da sogra dele, Lidiane Fontenelle, junto a empresas que, por sua vez, têm contrato com a prefeitura.
Com a abertura das comissões especiais, a base do prefeito David Almeida indicou a abertura de uma terceira CPI. Essa seria voltada a investigar suposto aumento de gastos da Câmara Municipal com comunicação, mirando atingir o presidente da CMM, Caio André.
Na ALE, bate-boca e pedido de cassação
Na ALE-AM, majoritariamente alinhada ao governador, o deputado estadual Daniel Almeida (Avante), irmão do prefeito David Almeida, tem se colocado como o defensor do mandato do irmão e criticado a gestão estadual, alinhada à candidatura de Roberto Cidade.
Um caso recente ocorreu no último dia 10 de setembro, quando Daniel Almeida fazia críticas ao governo estadual e foi interrompido pelo deputado estadual Felipe Souza (PRD), líder do governo Wilson Lima na Assembleia e apoiador da candidatura de Roberto Cidade, que criticou a prefeitura de Manaus. O caso terminou em xingamentos dos dois lados e sobrou até para a deputada estadual Alessandra Campêlo (Podemos), que presidia a sessão e tentava manter a ordem no plenário.
No último dia 13, o deputado estadual Felipe Souza apresentou um pedido de cassação à Mesa Diretora da Aleam para cassar o mandato do deputado Daniel Almeida, por ter lhe mandado “calar a boca” durante discussão em plenário.