Microfones e gravadores simbolizam atuação de jornalistas (Reprodução/Microgen/Envato)
07 de abril de 2025
Fabyo Cruz – Da Cenarium
BELÉM (PA) – Neste 7 de abril, quando se celebra o Dia do Jornalista, uma pesquisa recente ajuda a lançar luz sobre a relevância e os desafios da profissão em tempos de desinformação e consumo frenético de conteúdo. O estudo “Credibilidade das Mídias”, realizado pela agência de inteligência de dados Ponto Map em parceria com a V-Tracker e divulgado pelo jornal Valor Econômico, revela que, apesar da popularização das redes sociais como principal fonte de informação, o jornalismo profissional segue sendo o meio com maior credibilidade entre os brasileiros.
A pesquisa mostra uma inversão significativa entre os canais mais acessados e os mais confiáveis: enquanto as redes sociais lideram em frequência de uso (74%), são também um dos meios menos confiáveis (41%). Em contrapartida, veículos como o rádio, a TV fechada e a mídia impressa, mesmo com menor frequência de acesso, aparecem como os mais respeitados. O rádio, por exemplo, conta com 81% de confiança, embora seja acessado por 47% dos entrevistados.
Para compreender melhor esse cenário, a CENARIUM conversou com a jornalista Arcângela Sena, professora universitária e empreendedora da comunicação. Com ampla trajetória no campo da formação e da prática jornalística, ela analisa os dados com otimismo, mas sem perder de vista os desafios impostos pelas transformações digitais.
“A credibilidade do jornalismo profissional segue sendo um pilar fundamental, mesmo com o avanço das redes sociais. Isso mostra que, apesar da avalanche de informações, o público ainda reconhece a importância da apuração rigorosa, do compromisso ético e da responsabilidade com os fatos. O desafio é manter e ampliar esse reconhecimento”, afirma Arcângela.
Chamando atenção no levantamento, o rádio permanece como o meio mais confiável, mesmo em um ecossistema cada vez mais digital. Para Arcângela, isso se deve à sua conexão histórica com o cotidiano da população. “O rádio tem uma conexão afetiva. Ele transmite agilidade com credibilidade e se adaptou bem às novas plataformas. É um meio que se reinventa sem perder a essência do vínculo direto com o ouvinte”, diz.
Apesar das mudanças no comportamento do público, Arcângela defende a importância de formatos tradicionais, como o jornal impresso e o radiofônico, na formação crítica da sociedade. “Eles oferecem profundidade, contexto e responsabilidade editorial, elementos indispensáveis para o entendimento mais amplo da realidade”, reforça.
Diante da dicotomia entre os meios mais acessados e os mais confiáveis, a professora universitária acredita que o jornalismo profissional precisa se reposicionar com inteligência: “O jornalismo precisa ir onde o público está, mas sem abrir mão dos seus princípios. Isso exige linguagem acessível, formatos inovadores e uma escuta ativa. Credibilidade é construída com consistência, não com concessões fáceis”.
Como professora, Arcangela observa com atenção a relação dos jovens jornalistas com a credibilidade. “Eles trazem uma inquietação importante, questionam formatos e querem se conectar com o público. Quando bem orientadas, essas novas gerações compreendem que a credibilidade é o ativo mais valioso do jornalista”.
Tempos de imediatismo
Ela também compartilha os desafios da profissão em tempos de imediatismo. “Manter a serenidade diante da pressão por ser a primeira a noticiar algo é um desafio constante. A velocidade, se não vier acompanhada de verificação, pode comprometer a confiança do público — e confiança perdida é difícil de recuperar”.
No ambiente das redes e aplicativos de mensagens, onde a frequência de acesso é alta, mas a confiança é baixa, Arcangela defende o papel ativo do jornalista profissional. “Ele precisa atuar como curador da informação, com clareza, responsabilidade e empatia, combatendo a desinformação e promovendo o diálogo qualificado”, assegurou.
Diante do avanço da inteligência artificial e do consumo fragmentado de notícias, ela acredita em um futuro híbrido para o jornalismo. “A IA pode ser uma aliada na automação de tarefas, mas o olhar crítico, ético e humanizado continuará sendo o diferencial do profissional de carne e osso”, afirmou.
Dia do Jornalista
Ao final da entrevista, ela comentou sobre a importância de se celebrar o Dia do Jornalista em um contexto onde o ofício está em constante disputa por atenção e confiança pública. “Celebrar o Dia do Jornalista é reafirmar o compromisso com a verdade, a democracia e o interesse público. É também um momento de reconhecimento para quem enfrenta riscos e desafios diários em nome de um bem coletivo: a informação de qualidade”, disse.
Arcangela também deixou um conselho a quem está entrando agora na profissão. “Tenha propósito. Estude, questione, escute. Mantenha sua integridade acima da busca por likes. O jornalismo muda, mas sua essência — investigar, informar e formar — permanece como uma missão indispensável”, concluiu.
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Editado por Marcela Leiros
Revisado por Gustavo Gil
Fonte: Agência Cenarium