O gaúcho saxofonista e arranjador, que é radicado no Amazonas, Ricardo Sá, e o pianista e compositor, João José de Félix Pereira, paranaense, compõem o duo Ka’áyari, um duo de releitura da música ameríndia – Guarani, do Sul do Brasil e Tukano oriental, do Noroeste Amazônico – que inicia turnê na Europa, neste sábado, no República 14, Olhão, Algarve, Portugal.
O show “Mboraí”, acontece neste sábado, às 21h, no Espaço República 14, Olhão, Algarve, em Portugal, com o maestro e compositor, João José de Félix Pereira, Awaju Poty (em Guarani), executando piano e voz e o saxofonista e arranjador, Ricardo Sá, no saxofone e flautas indígenas amazônicas. Em Portugal, os show realizam-se ainda em Stúbal e Lisboa. A turnê segue, então, para a França, onde tocarão em Paris, Ulm e Palma de Mallorca, com o apoio da Fundação Getúlio Vargas e da Secretaria Estadual de Cultura do Amazonas.
Para João José de Félix Pereira, o duo Ka’áyari é um convite para paisagens sonoras brasileiras, mergulhadas em referências indígenas dos povos Tukano, Tariano e Guarani. “As músicas são interpretadas em forma de releituras e trazem em seu bojo a influência da música contemporânea e do Jazz”, diz.
Ricardo Sá, que executará o sax tenor e soprano e flautas indígenas Amazônicas, afirma que o duo Ka’áyari é inspirado em uma palavra de origem Guarani, que significa “guardiã da erva-mate”. “Inspira-se na cerimônia de infusão entre a erva e a água, para compor juntamente com seus dois elementos: o maestro João José de Félix Pereira e Ricardo Sá, em perspectiva fusion, um trabalho que funde o jazz e a música contemporânea aos ritmos, timbres e variações da música indígena ameríndia do Brasil.
No repertório, interpretam músicas autorais e peças experimentais, bem como incursões na música Guarani, de tronco linguístico Tupi-Guarani; na música Tariano – povo de origem Aruak. que fala sua língua e vive no povoado de Iauaretê ou em comunidades próximas, às margens do Uaupés; e na música Tukano, de tronco linguístico Tukano Oriental, feita por índios que vivem às margens do Rio Uaupés e seus afluentes – Tiquié, Papuri, Querari e outros menores, que integram 17 etnias, muitas das quais vivem na Colômbia, na mesma bacia fluvial e na bacia do Rio Apapóris (tributário do rio Japurá), cujo principal afluente é o rio Pira-Paraná.
Quem são?
O pianista, compositor e regente, João José de Félix Pereira possui Graduação em Piano e em Composição (FAP-ARTE/SP 1985). Possui vasta obra para instrumentos solos, grupos de câmera e orquestra. É Mestre em Comunicação e Semiótica (PUC/SP 1995). Doutor e Pós doutor em Ciências da Religião (UMESP/SP 2010). Professor fundador do Curso de Composição e Regência e do Curso de Musicoterapia da UNESPAR/PR, esteve com professor convidado na Universidade Estadual do Amazonas (UEA) e participou de inúmeros recitais no Amazonas.
O saxofonista, arranjador e compositor, Ricardo Berwanger Franco de Sá, é mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Amazonas, com linha de pesquisa em música indígena Tukano. Atua em diversos grupos musicais no Amazonas e Paraná, com foco em música experimental. Foi professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e da Oficina Escola de Lutheria da Amazônia (Oela). Atualmente, lidera o Grupo de Música Experimental, Aldeia Instrumental. Ambos são etnomusicólogos, tendo gravado CDs como Oporaí, de música Guarani Ñandeva; Ngyãtãngu Takegu (União dos Povos) e Acalanto, canto das mulheres do alto rio Negro.
Cronologia do Duo Ka’áyari
O Duo Ka’áyari iniciou em 2004, no Amazonas, ocasião em que o maestro esteve em Manaus, a convite do grupo de teatro Salamandra, para assumir a direção musical do espetáculo “As casas do tempo: uma releitura do Mito Tukano da Criação”, que estreou em frente ao Teatro Amazonas. Na ocasião, o duo apresentou peça orquestrada na Casa de Música, Ivete Ibiapina, da Secretaria de Cultura do Amazonas (SEC/AM), em Manaus.
Em 2014, o maestro Awaju Poty foi a Manaus ministrar uma palestra sobre a Música Guarani, no Instituto de Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal do Amazonas (ICHL/Ufam). Na ocasião, o Duo Ka’áyari apresentou-se com novo repertório, ampliado, incluindo além de canções Guarani e Tukano, as canções Tariano.
Nesta versão, o Duo apresenta um repertório que consta de músicas autorais de Awaju Poty, em Guarani e português e peças com Memby (flautas) de vários tamanhos e formas, que entoam as canções do povo Tariano do alto rio Negro.
Diálogos Interculturais
Durante o evento, haverá roda de Conversa denominada “Diálogos interculturais”, versando sobre a música Guarani, a música Tukano e a música Aruak, em seus contextos socioculturais, abrangendo aspectos como relações de gênero, mitologia, instrumentos e formas musicais, rituais, cura, outras dimensões, enteógenos, prática de pajés.