A escalada na guerra comercial entre China e Estados Unidos traz preocupação sobre os impactos para a economia global. O presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou na segunda-feira (7) que, caso a China não retire as taxas de retaliação sobre produtos norte-americanos, ele aplicará uma taxa adicional de 50% sobre os produtos chineses. Se cumprir a promessa, isso levaria as sobretaxas a um total de 104%.
Como a segunda maior economia do mundo, a China foi para o pau, depois de, em um primeiro momento, ter buscado uma negociação pelas vias diplomáticas. Mas o país é o principal alvo dos Estados Unidos em sua guerra comercial global.
Diante do acirramento da disputa, houve pânico nos mercados globais na véspera, com forte queda principalmente na Ásia. Nesta terça-feira (8), porém, houve recuperação, e as bolsas mundiais operam no azul.
Em seu perfil na Truth Social, Trump disse que “além disso, todas as negociações com a China referentes às reuniões solicitadas por eles conosco serão encerradas! As negociações com outros países, que também solicitaram reuniões, começarão a ocorrer imediatamente”.
Enquanto isso, as negociações com o governo japonês começaram. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse que cerca de 50 países procuraram o governo Trump para negociar. Entre eles está o Brasil.
Na noite de ontem, o governo chinês prometeu “lutar até o fim” caso os EUA insistam em impor novas tarifas.
“A ameaça dos EUA de aumentar as tarifas sobre a China é um erro sobre outro erro. Se os EUA insistirem em seu próprio caminho, a China lutará até o fim”, disse o Ministério do Comércio da China, que pediu diálogo para resolver disputas.
Mercado não consegue precificar incerteza da guerra comercial
Ontem, durante participação no ICL Notícias 1ª edição, o economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, disse que os mercados globais devem continuar enfrentando bastante oscilação. “As próximas semanas serão complicadas”, afirmou.
Em reportagem de O Globo, Cristiano Oliveira, diretor de pesquisa econômica do Banco Pine, disse que a crise vem do fato de que o mercado “não consegue precificar incerteza”. “O mercado tem incerteza sobre o quão recessivas essas políticas podem ser. Além do aspecto recessivo [das tarifas], também aparece um potencial inflacionário muito grande e, pior, persistente”, afirmou.
Ontem, o Ibovespa fechou com baixa de 1,31%, aos 125 mil pontos, enquanto o dólar disparou 1,30%, fechando a R$ 5,91.
As perdas não foram maiores, segundo Oliveira, porque os preços dos ativos já estão baixos. Pesou a desvalorização de commodities como petróleo e minério de ferro, pressionando papéis de Petrobras e Vale.
Para especialistas, a diferença entre o abalo dos últimos dias e as outras crises, como a pandemia de Covid-19 e a de 2008-09, é que Trump é a única pessoa que pode resolver a atual.
Briga de cachorro grande
Como a China decidiu ir para o pau, as consequências são imprevisíveis. Porém, o governo chinês não busca um rompimento total com os Estados Unidos. Nesse caso, a intransigência maior parte de Trump.
Ao O Globo, o economista brasileiro Rodrigo Zeidan, professor da Universidade de Nova York em Xangai e da Fundação Dom Cabral (FDC), disse que a reação da China tem a ver com posicionamento político. “O certo era ficar calado e não reagir. Mas não reagir seria um sinal de fraqueza”, disse.
O líder chinês Xi Jinping precisa projetar força fora e dentro do país, principalmente para restaurar a confiança do consumidor, abalada por uma crise imobiliária de anos que eliminou grande parte da riqueza e esfriou o crescimento do país.
O dilema de Xi parece ser o seguinte, segundo Craig Singleton, pesquisador sênior da Fundação para a Defesa das Democracias: caso se recuse a negociar, a pressão aumentará, mas se entrar nas negociações cedo demais, pode parecer fraco aos chineses.
Fonte: ICL Notícias