Jenife Silva foi encontrada morta no dia 2 de abril (Composição: Lucas Oliveira/Cenarium)
06 de maio de 2025
Ana Pastana – Da Cenarium
MANAUS (AM) – Familiares da brasileira Jenife do Socorro Almeida da Silva, de 36 anos, que foi encontrada morta dentro do apartamento onde morava na Bolívia, na cidade de Santa Cruz, afirmam que veem “pouca vontade” da polícia em investigar o caso, um mês após o crime. A advogada da família da estudante de Medicina, que está à frente do caso, afirmou à CENARIUM que a polícia não seguiu protocolos de investigação, contaminando a cena do crime.
A estudante de Medicina, natural de Santana, no Amapá, foi encontrada morta no dia 2 de abril. As autoridades locais investigam suspeita de feminicídio, e o principal suspeito é o adolescente J.D.R.F, de 16 anos, que está detido.
A advogada boliviana Darly Franco afirmou à CENARIUM que as evidências coletadas pela polícia foram contaminadas. “Dentro das investigações, foi feita a necropsia, e estamos esperando o laudo médico-forense. As evidências coletadas, por uma má atuação da polícia, não estão aptas para investigação forense, por estarem contaminadas. A polícia que investiga o caso não seguiu o protocolo de atuação e tampouco tem vontade de investigar”, afirmou a advogada.
De acordo com a advogada, uma reconstituição do crime foi solicitada pela defesa, a qual foi agendada para o dia 29 de abril. A polícia, no entanto, segundo Darly Franco, não compareceu ao local. “Foi suspenso o meu pedido porque os peritos não vieram e a polícia não cumpria o protocolo. O imputado [o adolescente detido] esteve presente“, declarou. Uma nova reconstituição do crime deve acontecer nessa quarta-feira, 7, às 9h, horário local.
A irmã da vítima, Jessijeny Almeida, residente no Amapá, afirmou à CENARIUM que a família conta com a experiência da Darly Franco no país boliviano. No Brasil, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) foi acionada para ajudar no caso.
“Mesmo com uma profissional qualificada estamos encontrando muita dificuldade, por falhas da polícia boliviana, então estamos tentando aqui no Brasil através de ajuda política e da OAB, com o Cícero Bordalo, para acionar a Corte Interamericana dos Direitos Humanos“, declarou Jessijeny Almeida;
Um mês após o crime, a família ainda lamenta a morte da brasileira, que estava no país vizinho para realizar o sonho de ser médica. “Muitas madrugadas sem dormir e o sofrimento continua. A família está muito abalada, meus pais precisam de acompanhamento diário, minha mãe teve piora no quadro de insuficiência cardíaca avançada, meu pai está fazendo tratamento para depressão. [Os filhos] ainda com dificuldades para aceitar o fato da partida repentina da mãe, ainda choram bastante“, declarou ela.
Relembre o caso
A estudante brasileira Jenife estava na Bolívia para concluir o curso de Medicina. Segundo uma amiga, a brasileira morou na cidade boliviana, onde fez o curso durante seis anos. Após concluir as aulas, voltou a residir no Amapá com os dois filhos. Ela precisou retornar ao país para pegar o diploma e resolver formalidades da formatura.
Amigos da universitária relataram que no dia 1° de abril, a brasileira Jenife assistiu a uma aula na Universidade de Aquino Bolívia (Udabol). Depois, foi ao encontro de um jovem que conheceu na Praça 24 de Setembro, considerado o principal símbolo da cidade de Santa Cruz de La Sierra.
“Nesse dia [na segunda-feira], a Jenife falou bem assim: ‘Hoje eu não vou, porque vou no cinema com um garoto que eu estou conhecendo’. Ela não falou quem era esse menino“, disse um amigo à reportagem na época. Foi a última vez que ela foi vista antes de ser encontrada morta.
Desaparecimento
Ainda de acordo com os amigos, o último “sinal de vida” de Jenife Silva foi neste dia, quando ficou on-line no aplicativo WhatsApp. No dia seguinte, um dos filhos dela também buscava por notícias da mãe. Preocupada, uma amiga, identificada como Andressa, foi ao apartamento da estudante, no bairro Vale Azul, onde recebeu a notícia de que o corpo havia sido encontrado e levado pelas autoridades.
“Isso já eram 8h da noite no horário de Santa Cruz. Então, ela [Andressa] recebe a notícia por meio da dona do edifício onde ela mora, de que o corpo já havia sido levado pela polícia e estava sob investigação. Chegando, eles [os amigos Andressa e Iago] tiveram que prestar depoimento, informaram sobre esse encontro e desbloquearam o celular dela. As investigações só aconteceram porque o celular foi desbloqueado“, complementou um terceiro amigo, que preferiu não se identificar.
O caso ganhou repercussão no Brasil e na Bolívia após um suspeito ser detido: J.D.R.F, de 16 anos. As investigações apontam que Jenife foi ao encontro do adolescente na noite em que foi vista pela última vez pelos amigos. O Ministério Público da Bolívia afirmou que a estudante morreu por asfixia mecânica, segundo exame de autópsia forense. Um laudo também indicou que a vítima foi estuprada e esfaqueada.
O suspeito
O adolescente de 16 anos, J.D.R.F, teve a prisão preventiva decretada por 45 dias. Ele é o principal suspeito de ter cometido o crime. Após a repercussão do caso, uma nova vítima do adolescente surgiu, relatando o histórico violento dele e da família.
No dia 22 de dezembro de 2024, imagens registradas por câmeras de segurança do corredor de um edifício residencial na cidade de Santa Cruz de La Sierra mostra o adolescente e o irmão, identificado como Carlos Eduardo de Oliveira Ferrel, agredindo duas mulheres. A denúncia foi feita por Graciela Román.
De acordo com Graciela, ela e a mãe foram até o local após receberem uma ligação da irmã, que não teve o nome divulgado, afirmando que estava sendo agredida por Carlos Eduardo. Os dois tinham um relacionamento amoroso.
“Cheguei na casa da minha irmã com minha mãe, pois recebi uma ligação dela pedindo ajuda, que estava sendo agredida por ele [Carlos Eduardo] e não queria entregar a bebezinha. Logo chegou sua mãe com seu irmão (J.D.R.F) e sua tia. Nesse dia, fui agredida por Carlos Eduardo de Olivera e por J.D.R.F, fisicamente e verbalmente, pela sua mãe e tia”, escreveu.
As imagens das câmeras de segurança do local mostram Carlos Eduardo, de blusa amarela e bermuda preta, segurando uma bebê de colo. Graciela, de blusa cinza com listras pretas e calça jeans azul, luta com o cunhado na tentativa de tirar o bebê do agressor.
No primeiro momento, Carlos empurra Graciela contra a parede. Em seguida, uma mulher de blusa amarela e calça azul, identificada como irmã de Graciela, parte para cima de Carlos para defender a irmã. Nesse momento, ele empurra a cabeça da vítima contra a parede.
No mesmo momento do confronto de Carlos Eduardo contra Graciela e a irmã, o adolescente J.D.R.F. surge nas imagens de camisa de manga longa cinza e calça preta, empurrando Graciela e, em seguida, desfere um soco no rosto da mulher. Ele também chega a empurrar a irmã de Graciela.
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Fonte: Agência Cenarium