Famílias agricultoras acampadas na Fazenda Campo do Boi, no município de Ipixuna do Pará, foram vítimas de um ataque violento (Divulgação)
18 de abril de 2025
Fabyo Cruz – Da Cenarium
BELÉM (PA) – Famílias agricultoras acampadas na Fazenda Campo do Boi, no município de Ipixuna do Pará, localizado a 255 quilômetros da capital Belém, foram vítimas de um ataque violento realizado na madrugada de quinta-feira, 17, por volta das 2h, por homens armados. Segundo denúncias recebidas por lideranças da região, jagunços invadiram o acampamento, amarraram moradores — entre eles crianças e uma mulher grávida — e atearam fogo em ao menos três casas.
O episódio ocorreu no Dia Internacional da Luta Camponesa, data em que se rememora o Massacre de Eldorado do Carajás, ocorrido há 29 anos no sul do Pará. Desta vez, a violência se repetiu na região nordeste do Estado, espalhando terror em uma comunidade que vive há mais de dez anos na área pública estadual e que sobrevive da agricultura familiar.
Relatos colhidos por organizações locais apontam que os criminosos agiram com extrema brutalidade. “Amarraram o pessoal perto da casa queimando. O pessoal quase morre queimado também lá. Foi muito complicada a situação”, diz um dos relatos recebidos pela Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil (Contraf Brasil/CUT).
Desde o ataque, há dificuldade de contato com diversas famílias, o que tem gerado forte angústia entre os moradores da região. A presença de crianças e de uma gestante agrava ainda mais o cenário de preocupação.
“Tem muitas crianças envolvidas. A mulher estava gestante. Está complicada a situação. Ninguém sabe o que fazer”, relatou uma liderança local.
A denúncia foi formalizada pela Contraf Brasil e pela Federação Estadual dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Pará (Fetraf-PA). Em nota, as entidades condenaram com veemência o episódio, que classificam como “ato de barbárie” contra famílias agricultoras, que lutam por terra para viver e produzir. Ambas exigem uma resposta imediata das autoridades públicas.
A Fetraf-PA denuncia que há tempos tenta obter uma audiência com o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), para tratar da situação das famílias que ocupam a área — pertencente ao Estado — mas não tem conseguido retorno. Segundo informações da Contraf Brasil, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) também tem buscado diálogo com o governo estadual, sem sucesso.
Em nota pública, a Contraf Brasi cobra:
• Que o governador do Pará receba urgentemente as representações dos movimentos;
• Que o Ministério da Justiça, o MDA e a Secretaria de Direitos Humanos atuem de forma imediata para garantir a segurança das famílias;
• Que os autores da ação criminosa sejam investigados e responsabilizados;
• Que o Estado do Pará assuma sua responsabilidade sobre a área e contribua com uma solução pacífica e definitiva.
“O que está em jogo é a vida e a dignidade das famílias agricultoras, que querem apenas um pedaço de chão para viver e produzir. É fundamental que as autoridades estaduais e federais se articulem e atuem para proteger quem vive e trabalha no campo”, afirma o coordenador da pasta de acesso à terra da Contraf Brasil, Auri Júnior.
A Fetraf-PA também manifestou publicamente: “Essa é uma terra pública ocupada de forma legítima por mais de 800 famílias, que transformaram o abandono em produção de vida. São trabalhadores e trabalhadoras que hoje abastecem mercados de Ipixuna do Pará, Paragominas, Aurora, Mãe do Rio e feiras na capital Belém”.
As organizações informaram que comunicaram o ataque à Ouvidoria Agrária Nacional e à Secretaria de Segurança Pública do Estado do Pará (Segup). Agora, cobram medidas urgentes e concretas para garantir a integridade das famílias e evitar novos episódios de violência no campo.
“Não podemos permitir que a violência substitua o diálogo, e que a impunidade silencie o campo”, finaliza a nota.
Nota da Segurança Pública do Estado (Segup):
“A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) informa que está acompanhando todas as ações na localidade, e ainda que Policia Militar atendeu, de forma imediata, a ocorrência durante a madrugada, na fazenda Campo de Boi. Inclusive, conduzindo às vítimas a Delegacia para o registro da ocorrência. A Polícia Civil já ouviu o depoimento de todos, solicitou as perícias e instaurou um inquérito policial para apurar o caso com celeridade. Foi enviado reforço policial para a região e equipes das Polícias Militar e Civil trabalham para identificar e responsabilizar os autores”.
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Editado por Adrisa De Góes
Fonte: Agência Cenarium