Com compromisso de longo prazo, gigante de tecnologia anunciou parcerias e projetos voltados para monitoramento e preservação ambiental
Cuidar do meio ambiente deveria ser uma missão individual e coletiva, mas, na prática, nem todos estão preocupados com o tema. Esse não é o caso do Google. A gigante de tecnologia está empenhada em mudar o cenário do desmatamento na Amazônia. Para isso, anunciou nessa terça (4) em Belém, no Pará*, uma série de projetos e parcerias que fomentam a preservação ambiental e o desenvolvimento da comunidade amazônica.
No total, a empresa investirá mais de R$ 10 milhões em iniciativas de sustentabilidade no Brasil, com foco na Amazônia.
“Segundo cientistas, a Amazônia está muito perto de atingir o ponto de não retorno. Isso significa que vai chegar um momento em que o desmatamento vai superar a capacidade que a floresta tem de se recuperar”, alertou Fabio Coelho, presidente do Google Brasil, acrescentando que sustentabilidade é um tema central para a gigante de tecnologia, indo muito além das buscas.
Helder Barbalho, governador do Estado do Pará, afirmou no evento de lançamento das iniciativas que é uma satisfação o Google escolher a Amazônia para fortalecer sua agenda sustentável. “Não acreditamos em construir algo sustentável que não passe por conhecimento, tecnologia, inovação e tenho certeza de que o Google representa diretamente isso. Temos buscado agir com parceiros que permitam a construção de um novo momento para o nosso Estado”, afirmou.
Ele lembrou que o Pará foi o único local que apresentou redução do desmatamento no último ano, segundo a Amazônia Legal, demonstrando que o combate de ilegalidades ambientais, desmatamento e transformação de uso do solo efetivamente são uma política de Estado e que precisa de aliados para ser perene e eficaz. Com a possibilidade de Belém, a capital do Pará, ser sede da COP 30, conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), prevista para 2025, Barbalho apontou que Belém assume sua vocação de ser sustentável e que conta com muitos atores para chegar lá.
Alianças em prol da sustentabilidade
Com a The Nature Conservancy (TNC), organização global de conservação ambiental dedicada à proteção das terras e águas, o Google anunciou a criação do projeto ‘Digitais da Floresta’ para desenvolver tecnologias baseadas em Inteligência Artificial (IA) e bioquímica, ajudando a identificar e a rastrear a origem da madeira comercializada a partir da Amazônia. Essa “digital” é baseada na distribuição de isótopos estáveis de carbono, oxigênio e nitrogênio encontrados em cada árvore, que não pode ser alterada e é imune à falsificação.
Para esse projeto, o Google.org realizou uma doação de mais de R$ 5,4 milhões, sendo R$ 2,7 milhões em dinheiro e R$ 2,7 milhões em crédito para anúncios relacionados à iniciativa.
Além disso, o Google disponibilizará 13 especialistas em machine learning (ML), geolocalização, UX Design e gerenciamento de projetos para trabalharem diretamente com a TNC Brasil no desenvolvimento de tecnologias e modelos de IA para a plataforma. Esse programa chamado de Google.org Fellowship é inédito na América Latina e terá a duração de seis meses.
O objetivo é lançar, entre outras soluções, uma plataforma web e app de inteligência permitindo que autoridades e consumidores identifiquem se um produto é feito com madeira de origem autorizada ou ilegal, levando transparência para o processo. A iniciativa conta com uma rede de parceiros, que inclui a Universidade de São Paulo (USP), o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e a Trase.
“A gente sabe que há falta de dados sobre o tema e esse desafio envolve muitos atores, tanto de quem faz extração legal, quanto ilegal. Assim como nós, humanos, cada árvore tem uma impressão digital. É dessa forma que vamos rastrear a madeira em larga escala. É a ciência dizendo a verdadeira origem dos materiais”, destaca Frineia Rezende, diretora-executiva da TNC no Brasil.
Por enquanto, o projeto já mapeou árvores de 20 áreas e contabilizou 250 amostras. O próximo passo é o desenvolvimento da plataforma científica de acesso aberto, que vai gerar um programa de transparência para o mercado, seguido do lançamento do app.
Como impacto, Frineia aponta que haverá reduções significativas de dióxido de carbono na atmosfera, com potencial de reduzir emissões do Brasil em 178 milhões de toneladas de gases de efeito estufa, o que representa 13% da meta nacional até 2023.
A preocupação com a identificação da madeira é totalmente genuína, uma vez que cerca de 40% da extração de madeira na Amazônia ocorre em áreas não autorizadas, segundo estudo da Rede Simex feito a partir de imagens de satélite obtidas entre agosto de 2020 e julho de 2021. Isso significa que em um ano, uma área equivalente à cidade de São Paulo teve exploração madeireira irregular.
Mas, para dar visibilidade à origem da madeira comercializada, o Digitais da Floresta propõe que a identificação da madeira seja feita baseada justamente na composição química e isotópica das árvores nativas. Hoje, os métodos tradicionais de rastreabilidade usam informações para identificar um produto por meio da cadeia de suprimentos e não coletam dados isotópicos.
“A metodologia isotópica é uma das mais recomendadas para o combate à exploração ilegal de madeira, no entanto, ainda foi pouco testada em condições tropicais, onde o número de espécies é altíssimo. Esse será o principal desafio do projeto, investigar a eficiência dessa metodologia em um ambiente diverso”, explica Luiz Antonio Martinelli, professor titular da USP que coordena a pesquisa no CENA.
AI contra desmatamento e enchentes
Ainda sob o guarda-chuva da inteligência artificial, o Google também apresentou a atualização das imagens da Floresta Amazônica, de 2020 a 2022, no Earth Timelapse, trazendo em detalhes como as mudanças na floresta ocorreram durante o período. As imagens são chocantes e mostram a evolução do desmatamento florestal em um curto período.
O mecanismo é um recurso do Google Earth – réplica digital do planeta Terra, em 3D, feita pelo Google – que revela imagens de como a Amazônia (e outras florestas ao redor do mundo) mudaram ao longo do tempo.
Agora, o Earth Timelapse conta com imagens de 1984 até o ano passado, em um avanço impressionante das informações. “Essas tecnologias ajudarão entidades públicas e organizações não-governamentais nos esforços de monitoramento e combate ao desmatamento, e outras ações de apoio à preservação da Floresta Amazônica e às populações que vivem na região. Além disso, chamam a atenção para os problemas das comunidades inseridas nesse contexto”, observa Rebecca Moore, diretora global do Google Earth e Google Earth Engine.
Timelapse do Google mostra evolução do desmatamento na Amazônia de 1984 até 2022
A executiva aproveitou para reforçar que o Google já doou cerca de 500 milhões de horas de CPUs para processamento de dados para proteção ambiental e que muito além de direcionar recursos financeiros, a empresa também apoia com doações iniciativas do tipo. “Também dedicamos pessoas. Todo o meu time atua há 15 anos para ajudar a sociedade a usar o Maps para o bem.”
“Nós sempre estávamos atrasados nos dados. O Google Engine revolucionou a nossa capacidade de ver o desmatamento da floresta. São mais 10 milhões de hectares na Amazônia em processo de regeneração e com o apoio da tecnologia também conseguimos medir a idade da floresta”, diz Carlos Souza Júnior, coordenador de monitoramento da Amazônia da Imazon.
Segundo ele, já são, hoje, 41% da floresta cortada por artérias, além do desmatamento tem essa zona de pressão. O Imazon passa a monitorar agora essa questão e com a ajuda da capacidade de IA. “O grande salto será combinar IA com inteligência humana para salvar nosso planeta.”
O Imazon também utiliza o Earth Engine para monitorar as estradas oficiais e não oficiais construídas na Amazônia Legal, assim como a atividade de extração de madeiras na região, uma vez que 95% do desmatamento na Amazônia se concentra a até 5,5 km das estradas oficiais e não oficiais.
O Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) se juntou ao Imazon no ano passado para colaborar com o monitoramento. Juntos, passaram a desenvolver algoritmos de IA que irão automatizar o processo de análise dos alertas de desmatamento. O Google Cloud também passará a oferecer, gratuitamente, créditos para que o IMPA rode os algoritmos de IA na infraestrutura de nuvem do Google.
Os alertas de incêndios também contam com Inteligência Artificial que usa imagens de satélite para detectar estágios iniciais de incêndios florestais. Essa detecção inicial torna a contenção do incêndio mais fácil, podendo reduzir seu impacto e evitar a liberação de grandes quantidades de CO2 na atmosfera.
Para levar informações para a população afetada pelas fortes chuvas e alertar sobre incêndios florestais, o Google anunciou também uma colaboração com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para a detecção precoce de incêndios florestais e o Alerta de Inundações, que conta com a parceria do Serviço Geológico do Brasil (CPRM).
O alerta de inundações, que opera no Brasil desde o ano passado, notificando em tempo real no Maps e na Busca, passará a mostrar previsões para 27 cidades no Brasil. O sistema já havia sido utilizado no caso dos desmoronamentos do Litoral Norte de São Paulo. O Google também irá expandi-lo para mais 20 cidades até o primeiro semestre de 2023 e planeja, ainda, desenvolver a plataforma de alertas de inundações para notificações em smartphones Android.
Nuvem a favor da sustentabilidade
No ano em que completa 18 anos no Brasil, a empresa aproveitou o momento não só para fomentar a parceria com a Imazon, mas também com a MapBiomas, a CRIA e a Onçafari.
Patrícia Florissi, diretora de Tecnologia do Google Cloud, destacou o trabalho com a MapBiomas, rede colaborativa que produz mapas anuais da cobertura e uso da terra, desmatamento, vegetação secundária, cicatriz de queimada, superfície da água, e mineração. A rede usa Google Cloud desde 2015, tendo validado e refinado mais de 280 mil alertas de desmatamento, gerando relatórios automaticamente para cada área desmatada com cruzamentos territoriais.
Desse total, pouco mais de 190 mil alertas são referentes ao bioma Amazônia, representando mais de 3 milhões de hectares de desmatamento validados. A MapBiomas monitora ainda com tecnologia do Google as pistas de pouso e as atividades de mineração e garimpo no Brasil. Lançado em fevereiro deste ano, o Mapa das Pistas já identificou mais de 2,8 mil pistas de pouso apenas no estado do Amazonas, sendo 75 em terras Ianomâmis. Já com relação ao garimpo, a tecnologia do Google Cloud ajudou o MapBiomas a identificar mais de 1,5 mil hectares em terras Ianomâmis que sofrem com a atividade.
Cuidado com as onças
Para monitorar a movimentação e o comportamento da fauna, a Associação Onçafari coleta e analisa mais de mil horas de vídeos todos os meses utilizando armadilhas fotográficas: câmeras com sensores de movimento instaladas no campo que ajudam no entendimento da dinâmica populacional nas regiões monitoradas, identificação de espécies raras e/ou ameaçadas e detecção de potenciais conflitos entre humanos e a natureza selvagem, além de diversas outras aplicações práticas e acadêmicas.
O Onçafari está agora implementando um processo automatizado de identificação das espécies detectadas nos vídeos coletados, por meio do Google Cloud. O fluxo de trabalho foi redesenhado, desde a instalação e o georreferenciamento das armadilhas fotográficas, passando pela triagem automática baseada em IA e revisão humana em casos específicos, até a análise integrada dos dados.
Como próximo passo, um sistema de gestão de ativos digitais será implementado para permitir organização, busca e revisão de vídeos capturados todos os meses nas bases Onçafari. Esse processo reduzirá o esforço dos biólogos do Onçafari na triagem manual dos vídeos, aumentando o impacto do monitoramento da fauna.
Empreendedorismo para desenvolvimento social
Em busca do desenvolvimento social, o Google.org, instituição filantrópica do Google, anunciou a doação de R$ 2,5 milhões para contribuir com o programa Fortalecimento e Protagonismo Empreendedor das Mulheres Indígenas do Amazonas, da Fundação Amazônia Sustentável (FAS).
A ideia é promover qualificação digital e apoiar financeiramente empreendimentos de mulheres indígenas focados em cadeias produtivas que valorizam a bioeconomia da Amazônia e o bem-estar de povos originários. O projeto atuará no fortalecimento de organizações de mulheres indígenas com pequenos negócios, colaborando também para o desenvolvimento social da região.
Com o recurso, a FAS construirá três centros de inclusão digital, onde treinará pequenas e médias empresas (PMEs) lideradas por mulheres indígenas em design de projetos, finanças, vendas e marketing digital, para ajudá-las a expandir seus negócios. O recurso deverá colaborar com incubação, financiamento e ampliação desses empreendimentos e o desenvolvimento de um portfólio de soluções para escalar com base na implementação.
“É uma iniciativa que busca o fortalecimento do empreendedorismo em mais de 800 comunidades e aldeias”, destaca Rosa dos Anjos, supervisora do Programa Indígena da FAS, reforçando que abril é o mês da resistência e da luta indígena.
O projeto financiará, até julho de 2024, o mapeamento de organizações indígenas formais e informais (lideradas por mulheres) na Amazônia brasileira e a identificação de investimentos prioritários em bioeconomia. Uma chamada aberta selecionará até cinco organizações indígenas formais e informais lideradas por mulheres para serem apoiadas.
Colaborar para multiplicar é a essência do Google, segundo Fabio Coelho, presidente da empresa no Brasil, algo que fica muito tangível depois de tantas novidades para a empresa e para a comunidade amazônica.
*A jornalista viajou a convite do Google
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