O governo Lula (PT) pretende seguir pela via diplomática para negociar a derrubada de sobretaxas ao aço e ao alumínio brasileiros impostos pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Porém, medidas mais drásticas não estão descartadas, segundo reportagem da Folha de S.Paulo.
Uma fonte do governo disse à Folha que o processo de negociação pela via diplomática já vem surtindo efeito, uma vez que a sobretaxa de 10% a produtos brasileiros é menor que a destinada a outros países.
Ao mesmo tempo que tenta negociar com os EUA, o governo brasileiro quer emitir sinais de que tem meios de retaliar o “tarifaço” com contramedidas. Também quer mapear possíveis oportunidades e insistir nos contatos com outros parceiros comerciais para abrir cotas nas vendas de aço e alumínio.
Mas o Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas brasileiras, afirmou que a prioridade do setor é a defesa da via diplomática negocial para reestabelecer o acordo de cotas de exportação do produto, que vigorou até o mês passado e previa isenção de tarifas de importação.
No caso do aço e do alumínio, o setor metalúrgico é visto como fundamental pelo governo Lula. Em 2024, foram enviados US$ 3,5 bilhões em produtos semiacabados de ferro ou aço aos EUA.
O Brasil é o segundo maior exportador de aço aos Estados Unidos, atrás apenas do Canadá. A medida atinge outros países e, diante da escalada da guerra comercial, há um movimento no xadrez global das principais nações atingidas para buscar nos parceiros.
Lula já fez discurso mais duro
Se, por um lado, o corpo diplomático do governo se articula para negociar um acordo a respeito das sobretaxas, o presidente Lula fez um discurso mais contundente esta semana.
Na quinta-feira (3), o petista disse que o país vai tomar “todas as medidas cabíveis” diante da decisão do governo norte-americano de tarifar em 10% os produtos brasileiros.
“Defendemos o multilateralismo e o livre comércio. E responderemos a qualquer tentativa de impor um protecionismo que não cabe mais hoje no mundo”, disse.
“Diante da decisão dos Estados Unidos de impor uma sobretaxa aos produtos brasileiros, tomaremos todas as medidas cabíveis para defender as nossas empresas e os nossos trabalhadores, tendo como referência a lei da reciprocidade econômica, aprovada ontem pelo Congresso Nacional, e as diretrizes da Organização Mundial do Comércio”, afirmou.
Lula citou a Lei da Reciprocidade Econômica, aprovada pelo Congresso Nacional e que autoriza o governo a adotar a retaliação comercial, além das diretrizes da OMC (Organização Mundial do Comércio). “[O Brasil] não bate continência para nenhuma outra bandeira que não seja a verde e amarela”, acrescentou.
No mesmo dia, o vice-presidente e ministro do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), Geraldo Alckmin (PSB), adotou um tom mais brando sobre a lei.
“[É] Uma boa legislação, necessária, importante, mas não pretendemos usá-la. O que queremos fazer é o diálogo e a negociação. Mesmo o Brasil ficando com a menor tarifa, 10%, ela é ruim. Ninguém ganha numa guerra tarifária, perde o conjunto”, disse Alckmin, durante entrevista a um podcast.
Estratégia
Nas negociações pela via diplomática, os negociadores brasileiros estão insistindo no argumento de que a tarifa efetiva aplicada pelo Brasil a produtos americanos é de 2,7% e que os EUA registram recorrentes e expressivos superávits comerciais em bens e serviços com o Brasil ao longo dos últimos 15 anos.
A avaliação do governo, até agora, é de que o momento é de digerir todas as informações apresentadas pelos EUA e dar sequência às conversas com os americanos para ter dimensão do real impacto das medidas sobre o Brasil, antes de avançar em uma contraofensiva.
Fonte: ICL Notícias
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