A Polícia Federal arrecadou provas desde fevereiro deste ano, durante e após a operação Tempus Veritatis, de que o grupo de militares conhecido como “Kids Pretos” teria criado um plano para uma emboscada contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). O magistrado foi minuciosamente monitorado pelo grupo. Esse plano faz parte dos preparativos para a tentativa de golpe de estado após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022.
A coluna apurou com duas fontes próximas à investigação que esses novos dados foram arrecadados em computadores e celulares apreendidos durante as ações. Um dos militares envolvidos no plano seria o general Mário Fernandes, chefe-substituto da Secretaria-Geral da Presidência, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. A coluna fez contato desde a tarde de sexta-feira com a defesa do general, mas não obteve retorno.
Na sexta-feira (8), o portal Uol revelou que a PF descobriu dados sobre a preparação do golpe que incluíram o levantamento dos nomes, das rotinas e até do armamento usado pelos responsáveis pela segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro Alexandre de Moraes. A coluna apurou que esse levantamento foi feito pelo grupo de “Kids Pretos”.
“Kid preto” é o apelido dado a militares que se formam no curso de Operações Especiais do Exército Brasileiro. Uma das unidades militares onde eles atuam é no Comando de Operações Especiais, em Goiânia. Segundo as investigações, a trama golpista tentou fazer com que militares dessa unidade tomassem parte no golpe de Estado. Entre as atribuições deles estaria prender o ministro Alexandre de Moraes e outras autoridades, sob ordem de Jair Bolsonaro.
Os investigadores descobriram uma reunião dos kids pretos em novembro de 2022, em Brasília. Os detalhes do plano foram encontrados em mensagens recuperadas no celular do tenente-coronel Mauro Cid, que fez colaboração premiada com a PF. Na última semana, o ex-chefe da Abin (Agência Brasileiras de Inteligência), Alexandre Ramagem, e o general Nilton Rodrigues prestaram depoimento no inquérito.
General citado pela PF comandou kids pretos
Segundo as investigações, uma das peças centrais nesse plano era o general Mário Fernandes. Antes de comandar a Secretaria-Geral da Presidência, ele esteve à frente do Comando de Operações Especiais, em Goiânia. O coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, afirmou aos investigadores que Fernandes integrava o grupo de militares mais radicais envolvidos no planejamento do golpe.
Conversas obtidas pela PF mostram que outros envolvidos contavam com a interferência dele para garantir a adesão dos kids pretos ao plano golpista, influenciando diretamente o comandante da unidade na época, general Carlos Alberto Rodrigues Pimentel.
Um dos indícios encontrados na investigação sobre o papel central do general Mário no plano de emboscada contra Moraes é um áudio. A gravação encaminhada pelo coronel Hélcio Franco ao ex-militar Ailton Barros – também envolvido na trama golpista.
“Quem tem a tropa na mão é o comandante de Operações Especiais. Por exemplo: o comandante deu a ordem, né? Tem que ver esse fenômeno aí do que é a tropa na mão, né? De qualquer forma, eu acho melhor coordenar esse assunto com o Mário, tá? Eu já falei pro Borges que eu não tenho contato com o Mário, e acho que o Borges deve encaminhar esse assunto pro Mário, que é a minha sugestão”.