Navio ancorado no Terminal Portuário de Outeiro é alvo de denúncias por moradores (Composição de Paulo Dutra/CENARIUM)
28 de abril de 2025
Fabyo Cruz – Da Cenarium
BELÉM (PA) – Um vazamento de petróleo no Terminal Portuário de Outeiro, na ilha de Caratateua, em Belém, provocou impacto direto em comunidades ribeirinhas da região na última terça-feira, 22. O terminal, que receberá navios de cruzeiro durante a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), em novembro deste ano, é agora foco de denúncias de pescadores e ambientalistas, que relatam contaminação das águas e prejuízos à pesca artesanal nas ilhas próximas.
De acordo com os denunciantes, o óleo foi despejado por um navio ancorado no porto. Imagens feitas por ribeirinhos mostram a água escurecida e instrumentos de pesca como os matapis cobertos por petróleo. Os matapis — armadilhas tradicionais feitas com fibra da palmeira Jupati, muito utilizadas na pesca de camarões — aparecem em vídeos e fotos impregnados pela substância.
A moradora da região Andreza Correa, que habita na ilha de Jutuba, afirmou à CENARIUM que a localidade e outras áreas insulares próximas de Outeiro foram afetadas, como as ilhas Paquetá, Nova e Cotijuba. Os moradores dizem que a mancha se espalhou rapidamente e começou a afetar a fauna aquática logo após o despejo.
Conforme os relatos, os impactos foram imediatos. Os pescadores não conseguem mais usar seus instrumentos de trabalho. Além dos matapis danificados, redes de pesca e cercas aquáticas também foram atingidas pelo óleo. O cheiro forte da substância tomou conta de áreas próximas à costa e há receio de contaminação mais profunda no solo e na água, o que pode prejudicar a biodiversidade por tempo indeterminado.
O ambientalista João do Clima, morador da ilha de Caratateua, disse à reportagem que a Divisão Especializada em Meio Ambiente e Proteção Animal (Demapa), da Polícia Civil, foi acionada logo após a descoberta do vazamento. “Uma pessoa me informou iria uma equipe da perícia para saber os danos. E que a empresa deve ter uma licença ambiental. A gente ainda não sabe qual é essa licença ambiental, mas de acordo com a licença, quando acontecem esses casos de grande magnitude, existe um protocolo para a empresa agir. Mas não sei se essa licença existe, não sei qual é essa licença e qual o protocolo que eles vão seguir”, explicou.
O ambientalista também reforça que o episódio representa mais um capítulo de negligência ambiental em territórios periféricos da capital paraense. “A nossa ilha é ferida por um crime ambiental que escancara o descaso com os territórios insulares e com quem vive aqui. O vazamento de óleo não foi apenas uma mancha na água. Foi uma ameaça à saúde, à pesca, à dignidade”, disse.
João conta que a população local é constantemente negligenciada diante de episódios que comprometem os ecossistemas locais e a economia das famílias ribeirinhas. “A dignidade de uma comunidade inteira foi atingida. A gente que somos os primeiros a sentir os impactos, somos os últimos a ser ouvidos. Claro que a gente exige responsabilização e reparação imediata, e acima de tudo respeito. A gente não vai aceitar silêncio nem invisibilidade. Aqueles que fizeram isso precisam se responsabilizar. E quanto mais dias se passam, mais a coisa fica pior”, afirma João.
Apesar da gravidade da situação, até o momento não houve manifestação oficial por parte da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas). A CENARIUM entrou em contato com a pasta para saber que medidas estão sendo adotadas em resposta ao vazamento, assim como também solicitou nota à Demapa, da Polícia Civil, mas ainda não obteve retorno de ambas. A reportagem permanece à disposição para incluir os posicionamentos oficiais quando for encaminhado.
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Editado por Adrisa De Góes
Fonte: Agência Cenarium