Nísia Trindade e Gleisi Hoffmann fizeram um desabafo sobre os ataques de machismo que sofreram (Composição: Paulo Dutra/CENARIUM)
11 de março de 2025
Ana Cláudia Leocádio – Da Cenarium
BRASÍLIA (DF) – A misoginia e o machismo na política fizeram parte dos discursos das duas mulheres do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta segunda-feira, 10, no Palácio do Planalto. Enquanto Nísia Trindade acusou a campanha machista que sofreu enquanto esteve no exercício do cargo de ministra da Saúde, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffman (PT), assumiu o novo posto dedicando sua chegada ao palácio às mulheres e se solidarizando com a primeira-dama, Janja da Silva.
Após fazer um balanço de sua gestão à frente do Ministério da Saúde, como a reconstrução do Sistema Único de Saúde (SUS) e da própria estrutura da pasta, Nísia Trindade fez um desabafo sobre os ataques de machismo que sofreu nestes pouco mais de dois anos no cargo.
“Ainda que o sentimento em mim seja de satisfação por ter feito parte da equipe do presidente Lula e ter servido ao meu País, não posso esquecer que durante os 25 meses em que fui ministra, uma campanha sistemática e misógina ocorreu de desvalorização do meu trabalho, da minha capacidade e da minha idoneidade. Não é possível e não aceito, e acho que não devemos aceitar, como natural, um comportamento político desta natureza“, declarou a ex-ministra, sem citar quem foram os atores da campanha contra ela, vítima de machismo.
Nísia Trindade deixa a Saúde para dar lugar ao ex-ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que também tomou posse nesta segunda-feira, prometendo aumentar a oferta de atendimento e redução da fila de espera por serviços especializados de saúde. Padilha será substituído pela ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) na articulação política.
Gleisi Hoffmann, por sua vez, procurou tirar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva as críticas feitas a ele com relação ao machismo, de que durante suas reformas ministeriais, demitiu somente ministras mulheres para substituí-las por homens. Sem fazer menção a essa acusação, ex-presidente do PT disse que Lula “foi o presidente que mais nomeou mulheres para cargos de comando e posições de poder na história do Brasil”. Dos 38 ministérios, dez são ocupados por mulheres.
“Não é trivial que um líder como Lula tenha ousado lançar a primeira mulher presidenta da República (Dilma Rousseff) e também a primeira presidenta do seu partido (ela mesma). São símbolos muito fortes, do compromisso com a mudança que se refletem em outros gestos”, disse Gleisi.
Ela completou, ainda, que dedica essa nomeação às mulheres em combate ao machismo. “Por isso, eu compartilho esse momento com todas as mulheres brasileiras, como um estímulo a nossa luta contra a desigualdade, o preconceito e o machismo, especialmente com a companheira Janja, que tem sido alvo de ataques misóginos que atingem a todas nós, Janja. Minha solidariedade”, afirmou.
Ministra promete colaboração
Gleisi Hoffmann assumiu a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) com a promessa de colaborar com todos porque tem consciência de que chega para somar, cumprindo seu papel na articulação política.
“Chego para somar. Foi essa missão que recebi e pretendo cumprir num governo de ampla coalizão, dialogando com as forças políticas do Congresso e com as expressões da sociedade, suas organizações e movimentos. Chego para colaborar com todos os ministros e ministras, que coordenam suas respectivas áreas, respeitando os espaços e competências de cada um e cada uma sob a liderança do presidente Lula. Tenho plena consciência do meu papel, que é da articulação política”, declarou a ministra em seu discurso.
Gleisi e Padilha não concederam entrevista aos jornalistas após a assinatura dos termos de posse. Em vez disso, tiveram uma maratona de fotos com correligionários que lotaram o salão do Palácio do Planalto, nesta segunda-feira. Gleisi afirmou que tudo o que tinha a dizer foi dito em seu discurso e que agora precisa trabalhar nas atividades do cargo.
Criticada por ter sido combativa às políticas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como o cumprimento do teto de gastos, Gleisi falou olhando para o ministro, que vem agora para ajudá-lo.
“Eu estarei aqui, ministro Fernando Haddad, para ajudar na consolidação das pautas econômicas, desse governo, as pautas que você conduz e que estão colocando novamente na rota do emprego, do crescimento, e da renda”, afirmou.
A nova ministra também fez acenos aos presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (REP), e do Senado, Davi Alcolumbre (União), para a futura articulação com as duas Casas. “Presidente Hugo, presidente Alcolumbre, com vocês quero manter a relação respeitosa, franca, solidária e direta. Não tenham dúvidas, estarei sempre aqui para conversar, ouvir críticas e acolher sugestões”.
Padilha manda recado aos negacionistas
É a segunda vez que Alexandre Padilha assume o Ministério da Saúde e fez um discurso inflamado contra os negacionistas que, segundo ele, colocam em risco a vida das pessoas e colaboraram para a morte de mais de 700 mil pessoas no Brasil, durante a pandemia de Covid-19.
“Na condição de ministro da Saúde, terei um inimigo contra o qual nunca recuarei: o negacionismo e as ideologias que os cercam. Negacionistas, vocês têm nas mãos o sangue dos que morreram na pandemia. Nós vamos impulsionar um amplo movimento nacional pela vacinação e defesa da vida”, declarou.
O ministro prometeu estudar tudo o que já foi realizado e buscar soluções para os problemas que afligem o sistema de saúde brasileiro, buscando o apoio dos entes federados, estados e municípios, assim como dos parlamentares. Padilha disse que pretende aumentar a oferta de atendimento especializado, um gargalo sem solução cuja fila só aumenta. Outra meta é estimular a vacinação para melhorar a cobertura vacinal do país, que sofreu impactos nos últimos anos, priorizando agora o combate à dengue.
“Nós vamos impulsionar um amplo emprego nacional pela vacinação e defesa da vida, que consolidará o Brasil com o mais amplo e diverso programa público de vacinação do mundo. Queremos chamar de volta todos aqueles que se mobilizaram durante a Covid-19 para defender a vida das nossas crianças, dos idosos e famílias por meio da vacinação”, pontuou.
O ministro também disse que pretende mudar o sistema de pagamentos pela tabela do SUS por um meio mais eficaz, que resolva os problemas, porque a atual tabela já não satisfaz o sistema brasileiro, que atua em compartilhamento com estados e municípios.
Uma fiscalização realizada pela Controladoria Geral da União (CGU), em agosto e setembro de 2024, a pedido do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), mostra que o Ministério da Saúde está entre os três ministérios que mais tiveram emendas indicadas pelos parlamentares do Congresso Nacional, entre os anos de 2020 e 2023.
Quem são os novos ministros
Gleisi Hoffman, 59 anos, é advogada e foi ministra-chefe da Casa Civil no governo de Dilma Rousseff (2011-2014). É filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT) desde 1989, já foi diretora da Itaipu Binacional, foi senadora da República pelo estado do Paraná, de 2010 a 2018, quando se elegeu para deputada federal, cargo para o qual foi reeleita em 2022. Desde 2017, foi escolhida para presidência nacional do PT. A atuação política vem desde o Paraná, onde começou a trabalhar em assessoria parlamentar como advogada.
Alexandre Padilha, 53 anos, é médico infectologista e chegou ao governo petista, em 2004, como diretor de Saúde Indígena da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Ele já assumiu as Relações Institucionais do segundo mandato do governo Lula (entre 2009 a 2010), mas chegou à secretaria bem antes, em 2005, quando atuou como chefe de gabinete da Secretaria de Assuntos Federativos da pasta. No ano seguinte, torna-se subchefe de Assuntos Federativos. É filiado ao PT desde os 17 anos. Também foi ministro da Saúde de 2011 a 2014, no governo Dilma Rousseff. Atualmente, está licenciado do cargo de deputado federal por São Paulo para assumir cargo no Executivo.
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Editado por Izaías Godinho
Fonte: Agência Cenarium