Não é incomum observar profissionais insatisfeitos com as carreiras que exercem. Muitos até pensam em mudar de área, como mostra a pesquisa “People at Work 2022 – A Global Workforce View”, do ADP Research Institute, que ouviu 33 mil trabalhadores de 17 países, incluindo o Brasil. Conforme o estudo, 8 em cada 10 pessoas cogitam mudar de carreira.
Segundo a coordenadora do Núcleo de Empreendedorismo da Faculdade Santa Teresa e especialista em Gestão de Pessoas, Comunicação e Carreira, Joziane Mendes, para realizar uma transição de carreira de forma tranquila é necessário planejamento.
Joziane Mendes ressalta que a insatisfação e a necessidade da mudança profissional tem diversas causas. “Muitas vezes a pessoa é muito jovem e escolhe a profissão para agradar aos pais ou familiares. Alguns confundem hobby com vocação ou sofrem influência da mídia, no que diz respeito ao ápice de alguns segmentos, como já foi a área ambiental no passado, como é a influência digital atualmente”, explicou.
De acordo com a especialista, qualquer que seja a razão, é necessário compreender que é sempre tempo de recomeçar e que a graduação ou carreira que se escolheu em um momento da vida não pode ser encarada como um contrato vitalício. Mas, como toda mudança, este é um processo que requer planejamento e alguns cuidados para que a transição não se torne mais uma frustração profissional.
Um exemplo de quem está trilhando o processo de mudança de carreira é a fisioterapeuta Ana Beatriz Rocha, que agora estuda Design de Moda na Faculdade Santa Teresa. Ela conta que vem de uma família de médicos e, desde a infância, foi influenciada a seguir carreira na área da saúde. “Foi algo natural, entrei na faculdade de Fisioterapia e gostei muito do curso. Até aquele momento, essa era a carreira que eu ia seguir. A moda sempre foi algo que me chamava atenção, mas que não encarava como uma possibilidade de profissão”, detalhou.
Ana Beatriz acrescenta que, um dia, ainda, durante a faculdade de Fisioterapia, ficou interessada em uma roupa na loja, mas tinha um valor alto. A prima sugeriu, então, que ela fizesse a própria peça. “O resultado foi bom. Essa mesma prima disse que eu deveria comprar uma máquina de costurar e fazer algumas roupas para vender. Eu segui o conselho e deu super certo. Quando eu concluí a graduação de Fisioterapia ainda estava desempregada e vi o anúncio sobre o curso de Design de Moda da Santa Teresa. Comecei a estudar e me apaixonei completamente”, frisou.
O curso, diz ela, me surpreendeu, porque desde o início os alunos participam de atividades práticas. “Hoje, eu tenho certeza que quero trabalhar com produção de moda. Tive oportunidade de atuar em desfiles em que a faculdade foi convidada e isso reforçou mais ainda minha decisão. Por enquanto, me mantenho com a profissão de fisioterapeuta, mas a intenção é, depois que acabar a graduação de Design de Moda, eu deixar aos poucos os atendimentos e trabalhar apenas com isso”, contou.
Outro exemplo de quem está mudando de carreira é Samantha Martins Alves, estudante do décimo período de Direito. Formada em Turismo e atuando como funcionária pública, ela decidiu mudar e encarar novos desafios. “Eu escolhi Turismo na época do terceiro ano do ensino médio. Muito se falava do potencial do estado nessa área e como as oportunidades de emprego iam crescer. Eu cheguei a atuar no segmento, mas ainda na faculdade passei em um concurso público. Por isso, mesmo concluindo a graduação, eu acabei não dando sequência”, disse.
Conforme Samantha Martins, o Direito surgiu há cinco anos atrás, quando tomou a decisão de fazer outros concursos públicos e a maioria exigia conhecimento jurídico. “Foi então que eu entrei na faculdade de Direito e me encontrei. Eu podia ter me acomodado, porque já estava estabilizada com o cargo público, mas eu sempre quis mais. Meus planos ainda são passar em um concurso. Recentemente, recebi a aprovação da OAB, com uma das maiores notas, e já estou estudando para as outras provas”, declarou.
Dicas – A especialista em Gestão de Pessoas, Comunicação e Carreira, Joziane Mendes, lista algumas dicas de como planejar para a transição de carreira. A primeira orientação é construir uma reserva financeira, porque durante o momento de mudança de carreira pode ser que a pessoa inicie na nova área em um nível abaixo do cargo atual, daí a importância de poder contar com recursos para manter a qualidade de vida por pelo menos dois anos.
O segundo ponto é fazer network com pessoas que atuam na carreira que você está buscando. “Provavelmente, os profissionais da carreira atual não consigam trazer as orientações relacionadas à nova área, portanto, traçar conexões que possam abrir portas para este novo cenário é fundamental”, afirmou.
Outra recomendação é conversar com quem já passou pela transição: muitas orientações e informações valiosas podem ser adquiridas com pessoas que já experimentaram esta mudança. Além disso, neste processo de conversa pode ser que um desses profissionais se torne o mentor nesta etapa da vida. A última orientação é jamais fechar as portas, ainda que a decisão de mudança de área de atuação seja irrevogável. O ideal é despedir-se do emprego atual com toda ética, respeito e sentimento de gratidão. “Resguarde um bom relacionamento e uma boa imagem com todos”, orienta.