Mais de 400 ribeirinhos, que vivem na Comunidade Santa Helena do Inglês, localizada dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Rio Negro (a 60 quilômetros de Manaus), serão beneficiados com o projeto “Gelo Caboclo”. A iniciativa vai instalar um sistema para produzir gelo, com o objetivo de diminuir os custos de pescadores, pousadas, restaurantes e dos próprios comunitários da região, aumentando a renda em torno de 20%.
O projeto está sendo executado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), que atua na região promovendo uma série de atividades e recebeu a demanda dos moradores referente ao sistema de produção de gelo. Os moradores têm despesas com o translado até Manaus para aquisição do gelo e acabam tendo perda calorífica, com o derretimento do produto, devido à distância da capital até a comunidade.
A principal atividade econômica da comunidade é a pesca e venda do jaraqui e matrinxã, e a conservação do pescado utiliza muito gelo, com alto custo logístico na compra. Só no período da pesca, eles pagam em torno de R$ 51 mil por ano comprando gelo para o armazenamento do pescado. Isso gera uma despesa média de R$ 13.216, por família, na cadeia produtiva do peixe, sendo que a renda familiar, média por ano, com a venda do peixe é de apenas R$ 6.710 mil.
“O objetivo do projeto Gelo Caboclo é projetar e construir uma unidade produtiva de gelo, com sistema de geração de energia limpa com placas fotovoltaicas, de energia solar, utilizando a tecnologia e conhecimentos técnico-científicos disponíveis. Desta forma, toda a economia da região será beneficiada. Pois, vão reduzir os gastos com a compra de gelo para seus empreendimentos e até para as suas residências”, comentou a superintendente de Desenvolvimento Sustentável de Comunidades da FAS, Valcléia Solidade.
O projeto iniciou em setembro do ano passado, com as atividades de gestão, organização e acompanhamento, e prevê a geração de mais de três mil quilos de gelo por dia, quando for implementado.
“Foram realizadas ações de mobilização em campo, com a apresentação e validação do projeto pela equipe técnica da FAS junto aos comunitários e empreendedores locais. Além disso, foram executadas ações de mobilização para levantamento de informações e diagnóstico socioambiental, por meio de formulários de pesquisa com os comunitários. Ou seja, não é um projeto que surgiu do nada. É um projeto que vem atender as demandas locais”, afirmou.
A coordenadora de Gestão do Conhecimento da FAS, Geórgia Franco, explica que o projeto é fruto de uma pesquisa inovadora de busca de soluções sustentáveis para produção do gelo na RDS do Rio Negro.
“A construção da fábrica de gelo, além de contribuir para o fortalecimento da bioeconomia e da geração de renda de base comunitária, também se comprova como uma iniciativa inovadora em comunidades ribeirinhas e utilizará um sistema de energia solar para o seu funcionamento. Após a instalação, a gestão e os cuidados do projeto ficarão sob responsabilidade dos próprios comunitários, que participarão de cursos de capacitação”, afirma Geórgia.
“O projeto vai ser importante para redução de despesas, não só para a cadeia da pesca, mas também para o comércio e turismo. Quando compramos gelo em Manaus, nós também gastamos com combustível e diárias de barco, o que torna tudo ainda mais caro. Com a produção local, nós não vamos ter prejuízos caso a pesca não seja tão farta, porque não vamos desperdiçar mais gelo do que o necessário, ajudando ainda mais em nossa economia de gastos”, relata Nelson Brito, pescador e presidente da comunidade Santa Helena do Inglês.
O Gelo Caboclo é uma iniciativa que tem recursos do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPbio) e as atividades da FAS nas Unidades de Conservação (UCs) também recebem apoio da Secretaria Estado de Meio Ambiente do Amazonas (Sema/AM).
Sobre a FAS
A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia por meio de programas e projetos nas áreas de educação e cidadania, saúde, empoderamento, pesquisa e inovação, conservação ambiental, infraestrutura comunitária, empreendedorismo e geração de renda. A FAS tem como missão contribuir para a conservação do bioma pela valorização da floresta em pé e de sua biodiversidade e pela melhoria da qualidade de vida das populações da Amazônia. Em 2023, a instituição completa 15 anos de atuação com números de destaque, como o aumento de 202% na renda média de milhares famílias beneficiadas e a queda de 40% no desmatamento em áreas atendidas entre 2008 e 2021.