Ronilson de Jesus Santos (Reprodução/Arquivo pessoal)
24 de abril de 2025
Fabyo Cruz – Da Cenarium
BELÉM (PA) – Antes de ser assassinado com tiros na cabeça, o agricultor e líder rural Ronilson de Jesus Santos, de 52 anos, denunciava invasões de madeireiros e pistoleiros na área do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Virola-Jatobá, em Anapu, no sudoeste do Pará. O assentamento abriga cerca de 120 famílias e está situado na mesma região onde, em 2005, a missionária norte-americana Dorothy Stang foi morta em circunstâncias semelhantes.
Ronilson era dirigente da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil (Contraf Brasil) e atuava há anos na organização de trabalhadores rurais e na defesa da reforma agrária no Estado. O crime ocorreu na última sexta-feira, 18, por volta das 14h20, quando foi surpreendido por dois homens armados que chegaram de moto e invadiram a casa dele no bairro Alto Bonito, zona urbana de Anapu. De acordo com testemunhas, os assassinos usavam capacetes e fugiram logo após os disparos.
O corpo do agricultor foi encontrado ainda na tarde de sexta-feira, por um dos filhos, que havia saído para comprar peixe. No domingo, 20, Ronilson foi sepultado no cemitério público de Anapu, sob forte comoção de familiares, amigos e moradores do assentamento.
Alepa
Na terça-feira, 22, o deputado estadual Carlos Bordalo (PT) apresentou uma moção na Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) e solicitou providências do governo do Estado para garantir celeridade nas investigações e a proteção das famílias que vivem na área do PDS Virola-Jatobá. O documento foi encaminhado à Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup), à Delegacia Especializada em Conflitos Agrários (Deca-Altamira) e aos Ministérios Públicos Estadual e Federal.
Bordalo também pediu reforço do policiamento na região e o envolvimento de diversas instituições, incluindo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri), a Ouvidoria Agrária Nacional e a Defensoria Pública da União (DPU).
Relatório
A morte de Ronilson ocorreu dias antes da publicação do relatório Conflitos no Campo Brasil 2024, divulgado pela CPT nessa quarta-feira, 23. O documento aponta o Pará como um dos Estados com maior número de ocorrências de violência agrária no País. O relatório registra conflitos por terra, ameaças de despejo, grilagem, pistolagem e assassinatos de lideranças rurais.
Segundo os dados da CPT, o Pará continua como território de alta reincidência de conflitos fundiários. O levantamento aponta ainda que, embora o número total de assassinatos no campo no Brasil tenha diminuído em 2024 — com 13 casos até o momento —, o Estado permanece como um dos mais perigosos para as lideranças rurais e indígenas.
O relatório também destaca o crescimento de 113% nos incêndios e 39% no desmatamento ilegal na Amazônia Legal, onde o Pará está inserido. Esses fatores afetam diretamente comunidades tradicionais, como ribeirinhos, indígenas e pequenos agricultores.
A Comissão Pastoral da Terra relembra, ainda, os 20 anos do assassinato de Dorothy Stang, ocorrido em Anapu, como um marco simbólico da resistência no campo. A atuação da CPT-Pará é citada como fundamental na documentação e no enfrentamento da violência agrária na região.
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Editado por Adrisa De Góes
Revisado por Gustavo Gilona
Fonte: Agência Cenarium