As tropas israelenses arrasaram terras agrícolas e esvaziaram bairros residenciais inteiros em Gaza para abrir uma “zona de morte” ao redor do enclave, de acordo com um relatório na segunda-feira (7) que citou depoimentos de soldados sobre os métodos severos usados na operação.
O relatório, do grupo israelense de direitos Breaking the Silence, citou soldados que serviram em Gaza durante a criação da zona tampão, que foi estendida para entre 800 e 1.500 metros dentro do enclave até dezembro de 2024 e que, desde então, foi expandida ainda mais pelas tropas israelenses.
Israel afirma que a zona tampão que circunda Gaza é necessária para evitar a repetição do ataque de 7 de outubro de 2023 por milhares de combatentes e homens armados liderados pelo Hamas que atravessaram a zona tampão anterior de 300 metros para atacar uma série de comunidades israelenses ao redor da Faixa de Gaza. O ataque, que matou 1.200 pessoas e fez 251 reféns, foi um dos piores desastres de segurança da história de Israel.
“A linha de fronteira é uma zona de morte, uma área mais baixa, uma planície”, diz o relatório, citando um capitão do Corpo Blindado. “Nós temos uma visão dominante dela, e eles também têm.”
As Forças Armadas israelenses não responderam imediatamente a um pedido de comentário sobre o relatório.
Os depoimentos vieram de soldados que estavam servindo em Gaza no final de 2023, logo depois que as tropas israelenses entraram no enclave, até o início de 2024. O relatório não abrangeu as operações mais recentes para ampliar consideravelmente o terreno mantido pelos militares.
Na expansão inicial da zona, os soldados disseram que as tropas que usaram escavadeiras, juntamente com milhares de minas e explosivos, destruíram cerca de 3.500 edifícios, bem como áreas agrícolas e industriais que poderiam ser vitais na reconstrução pós-guerra. Cerca de 35% das terras agrícolas de Gaza, grande parte das quais fica nos limites do território, foram destruídas, de acordo com um relatório separado do grupo de direitos israelenses Gisha.
“Essencialmente, tudo é destruído, tudo”, disse um soldado da reserva que serve no Corpo Blindado, segundo o relatório. “Cada prédio e cada estrutura”. Outro soldado afirmou que a área parecia “como Hiroshima”.
O Breaking the Silence, um grupo de ex-soldados israelenses que busca aumentar a conscientização sobre a experiência das tropas que servem na Cisjordânia ocupada e em Gaza, disse que conversou com soldados que participaram da operação para criar o perímetro e os citou sem dar seus nomes.
Um soldado de uma unidade de engenharia de combate descreveu a sensação de choque que sentiu ao ver a destruição já causada pelo bombardeio inicial da área norte da Faixa de Gaza quando sua unidade foi enviada pela primeira vez para iniciar a operação de limpeza.
“Foi surreal, mesmo antes de destruirmos as casas quando entramos. Era surreal, como se estivéssemos em um filme”, declarou ele.
“O que eu vi lá, até onde posso julgar, foi além do que posso justificar como necessário”, disse. “É uma questão de proporcionalidade.”
Os palestinos não tinham permissão para entrar na zona e eram alvejados se o fizessem, mas o relatório citou soldados dizendo que as regras de engajamento eram vagas e dependiam muito dos comandantes no local.
Fonte: CNN Brasil