O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem agido como uma espécie de “biruta de aeroporto”, mudando a rota dos acontecimentos ao sabor de suas vontades e gerando o caos no mundo. Tudo porque o alvo principal do republicano é atingir a China, mas essa não será uma tarefa fácil, segundo o professor de economia da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) Leonardo Trevisan.
Segundo ele, “151 países dos 190 que tem no mundo tem corrente de comércio [exportações/importações] maior com a China”. “Isso não se desmonta de um dia para o outro, nem se construiu de um dia para o outro. Foram anos e anos [de construção]”, disse, em entrevista ao ICL Notícias 1ª edição desta quinta-feira (10).
Trump foi eleito presidente, tanto no atual como em seu primeiro mandato, mirando o eleitorado do chamado “cinturão da ferrugem”, formado basicamente por norte-americanos que perderam seus empregos com a debandada de empresas do solo norte-americano e pela substituição de máquinas. A promessa dele é tornar os EUA um país autossuficiente, buscando atrair novamente as empresas para o solo norte-americano, cuja produção está mais concentrada na Ásia.
Segundo o professor, o plano tarifário de Trump visa a deixar a China de joelhos, mas o presidente Xi Jinping não parece cair na armadilha. Pelo contrário, o governo chinês é o único que tem revidado as tarifas dos EUA.
Na tarde de quarta-feira (9), Trump anunciou que pretende elevar de 104% para 125% a tarifa aplicada a produtos importados da China. Na manhã de ontem, a China havia anunciado um aumento para 84% em importados americanos.
Além disso, o presidente dos EUA informou que, por um período de 90 dias, fará uma pausa na cobrança de tarifas em todos os países que não retaliaram os EUA.
China se cerca de aliados
“O próprio Xi Jinping recebeu na terça-feira [8] grandes investidores, CEOs de empresas, para oferecer garantias de que nada ia mudar na China, que eles ficassem tranquilos”, disse Trevisan. “Quem é que está isolado? É disso que nós estamos falando. Observem o dado relativo principalmente ao crescimento dos Brics [grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e Arábia Saudita] por pressão chinesa (…). Por pressão chinesa no Brics, Arábia Saudita e Indonésia subiram com a China”, lembrou.
“A China está construindo um conjunto de aliados que é muito forte. Sabe o que aconteceu de verdade nas últimas 24 horas? Quem definiu bem foi o Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA: ‘Trump conseguiu a máxima alavancagem de si mesmo’. É perfeita a frase. Uma alavancagem que não é montada em cima da realidade”, disse o professor.
Produção chinesa
Trevisan afirmou que não será fácil para Trump cumprir a promessa feita de atrair empresas para o solo americano novamente.
Além de a maioria dos componentes do iPhone, por exemplo, serem produzidos em solo chinês, a indústria de semicondutores está concentrada, por exemplo em Taiwan, que “oferece ao mundo 80% da demanda de chips/semicondutores”. “E, muito mais grave, as terras raras [minerais usados pela indústria em geral, principalmente de tecnologia]. Não se faz magnetismo todo de Inteligência Artificial sem esses metais, e a maioria está em território chinês”, disse.
Ele lembrou ainda que a China produz 440 mil engenheiros por ano, enquanto os EUA produzem 150 mil. “Quando olhamos para esses dados, é um projeto inteiro de país”, pontuou.
Veja a entrevista completa do professor Leonardo Trevisan no vídeo abaixo:
Fonte: ICL Notícias