No fundo dos oceanos, nas profundezas de cavernas e até mesmo enterrados no solo, existem criaturas que desafiam os limites da vida ao sobreviver em ambientes totalmente desprovidos de luz. Esses animais vivem em um mundo de escuridão, onde a visão muitas vezes se torna desnecessária e outros sentidos são refinados para garantir sua sobrevivência.
Alguns animais desenvolvem corpos translúcidos ou despigmentados, já que a coloração não tem utilidade na ausência de luz. Outros aprimoram sentidos como tato, audição e olfato para explorar o ambiente ao redor. Há ainda aqueles que contam com simbiontes para obter nutrientes ou que evoluíram estratégias de caça altamente especializadas.
Confira a seguir 8 animais que vivem no escuro e suas incríveis adaptações para sobreviver nestes ambientes.
8 animais que vivem no escuro e suas incríveis adaptações
Peixe-cego mexicano (Astyanax mexicanus)
O peixe-cego mexicano (Astyanax mexicanus), também chamado de tetra-cego, é um peixe de água doce que apresenta duas formas distintas: uma de superfície, com olhos funcionais e coloração prateada, e outra subterrânea, que evoluiu em cavernas e apresenta um olho vestigial, em função.
A forma cavernícola desse peixe possui características adaptativas notáveis, como a ausência de pigmentação, tornando-o translúcido ou esbranquiçado, além da degeneração dos olhos durante o desenvolvimento.
Para compensar a cegueira, ele desenvolveu um sistema sensorial apurado por meio da linha lateral, que permite detectar vibrações e mudanças na pressão da água, facilitando a navegação e a busca por alimento em ambientes escuros e com escassez de recursos.
Por conta dessa fascinante característica, o Astyanax mexicanus é utilizado em estudos sobre distúrbios visuais humanos, como a degeneração da retina, tornando-se um modelo para compreender a evolução e a plasticidade genética dos organismos.
Peixe diabo-negro (Melanocetus johnsonii)
Esse peixe abissal é um predador impressionante da zona de escuridão do oceano. Vivendo a mais de 1.000 metros de profundidade, onde a luz solar não alcança, ele se destaca por sua aparência assustadora. Com dentes longos e uma boca capaz de engolir presas quase do seu próprio tamanho, já que seu estômago é extremamente flexível, possibilitando ingerir grandes quantidades de comida de uma vez, garantindo reservas para longos períodos sem alimento.
Para sobreviver nesse ambiente extremo, ele desenvolveu adaptações impressionantes, como um corpo escuro e flácido, que o ajuda a se camuflar na escuridão. Sua característica mais marcante é a presença de um filamento bioluminescente, chamado ilício, que se projeta da cabeça e atrai presas ao emitir luz por meio de bactérias simbióticas. Esse mecanismo permite que o diabo-negro cace sem gastar energia perseguindo suas vítimas, uma estratégia essencial em um ambiente com poucos alimentos.
Caranguejo-yeti (Kiwa hirsuta)
O caranguejo-yeti é um crustáceo descoberto em 2005 nas profundezas do Oceano Pacífico, próximo às fontes hidrotermais. Ele vive a mais de 2000 metros de profundidade, em um ambiente extremo sem luz solar e com temperaturas variando drasticamente devido às emissões químicas das fendas oceânicas.
Uma de suas características mais marcantes são as pinças cobertas por cerdas semelhantes a pelos, que abrigam colônias de bactérias quimiossintetizantes, que ajudam a converter os compostos químicos liberados pelas fontes hidrotermais em energia, fornecendo uma fonte alternativa de alimento para o caranguejo, que pode raspá-las e ingeri-las.
Além dessa relação simbiótica, o Kiwa hirsuta possui olhos reduzidos e não funcionais, então para se orientar e detectar presas ou perigos, ele depende de suas longas antenas e de sensores táteis e químicos espalhados pelo corpo. Sua coloração esbranquiçada também é um resultado da ausência de luz, pois não há necessidade de pigmentação para camuflagem.
Isópode-gigante (Bathynomus giganteus)
Esse crustáceo marinho é um dos maiores isópodes conhecidos, podendo atingir mais de 50 cm de comprimento. Habita as regiões abissais do oceano, geralmente entre 500 e 2.500 metros de profundidade, onde a comida é extremamente escassa e a pressão é altíssima. Seu formato achatado e sua rígida carapaça o protege de predadores e do ambiente hostil.
O isópode-gigante é um necrófago, o que significa que se alimenta de carcaças de peixes e mamíferos marinhos que afundam até o leito oceânico. Para sobreviver, possui um metabolismo extremamente lento e pode ficar meses sem se alimentar. Seu tamanho avantajado é um exemplo do fenômeno conhecido como gigantismo abissal, comum em invertebrados que vivem nas profundezas.
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Grilo-das-cavernas (família Rhaphidophoridae)
O grilo-das-cavernas, pertencente à família Rhaphidophoridae, é um inseto adaptado a ambientes subterrâneos onde a umidade e escuridão predominam, como cavernas, túneis e fendas em rochas. Esses grilos possuem pernas traseiras muito longas e antenas extremamente compridas, que os ajudam a se locomover e explorar o ambiente ao redor, mesmo sem depender da visão.
Muitas espécies dessa família têm olhos reduzidos ou ausentes, já que vivem em locais onde a luz é praticamente inexistente. Como compensação, desenvolveram um sistema sensorial apurado, usando suas antenas para detectar obstáculos, vibrações e a presença de outros organismos.
Como vivem em locais onde a comida é escassa, os grilos-das-cavernas são oportunistas, alimentando-se de matéria orgânica em decomposição, fezes de morcegos e até mesmo de outros insetos. Algumas espécies podem viver anos sem ingerir grandes quantidades de alimento, graças ao seu metabolismo reduzido.
Poliqueta Osedax sp. (o “verme-zumbi”)
No meio da escuridão, os vermes do gênero Osedax vivem fixados em ossos de baleias que afundam no oceano após sua morte. Sem boca, estômago ou sistema digestivo tradicional, eles contam com bactérias simbióticas para decompor os tecidos e os lipídios dos ossos, absorvendo os nutrientes de maneira indireta.
Uma característica fascinante desses poliquetas é o extremo dimorfismo sexual: as fêmeas são relativamente grandes e dominam os ossos, enquanto os machos permanecem microscópicos e vivem dentro dos corpos das fêmeas, apenas com a função de fertilizar seus ovos.
Salamandra-cega-do-Texas (Eurycea rathbuni)
Essa salamandra aquática habita cavernas submersas no estado do Texas, nos Estados Unidos. Seu corpo é pálido, quase translúcido, e seus olhos são atrofiados e cobertos por pele, tornando-a completamente cega.
Para sobreviver na escuridão, a salamandra desenvolveu sentidos extremamente aguçados. Seus sensores na pele detectam vibrações na água, permitindo que perceba o movimento de presas, como pequenos crustáceos e insetos. Como o ambiente subterrâneo tem poucos recursos alimentares, essa espécie tem um metabolismo incrivelmente lento e pode sobreviver longos períodos sem comida.
Peixe olho-de-barril (Macropinna microstoma)
Esse peixe das profundezas tem uma das aparências mais peculiares entre os animais que vivem sem luz. É uma espécie rara e fascinante que vive em profundidades entre 600 e 800 metros, nas zonas escuras do oceano Pacífico. Sua principal característica é a cabeça transparente e em forma de cúpula, através da qual se pode ver seus olhos verdes e tubulares, voltados para cima.
Esses olhos são extremamente sensíveis à luz e permitem que o peixe detecte as silhuetas de presas nadando acima dele, mesmo com pouquíssima luminosidade. Ao contrário do que parece, os “olhos” visíveis na frente do rosto são, na verdade, órgãos olfativos – os olhos reais estão dentro da cabeça translúcida.
Ele se alimenta principalmente de pequenos animais gelatinosos, como sifonóforos, e é capaz de mover seus olhos dentro da cabeça para mirar à frente quando necessário.
Ao contrário da maioria dos peixes, seus olhos são orientados para cima e podem girar dentro do crânio, permitindo que ele enxergue presas acima sem precisar mover o corpo. Essa adaptação é fundamental para capturar pequenos organismos bioluminescentes que nadam na escuridão.
Fonte: Olhar Digital