O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se furtou em sinalizar o fim da alta de juros nesta quarta-feira (7), influenciado pelo recrudescimento das incertezas globais e a permanência da inflação fora da meta no Brasil, segundo analistas ouvidos pela CNN.
A decisão, já esperada pelo mercado, foi acompanhado de nota na qual o Copom voltou a citar riscos de inflação para cima e para baixo, apesar de desta vez reconhecer que os fatores estão equilibrados, com três para cada lado.
Para o economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Igor Rocha, o colegiado optou por ter margem de manobra diante das dúvidas referentes a dinâmica do mercado doméstico e sobretudo internacional.
“Não há, no comunicado, sinalização sobre uma eventual flexibilização da política monetária, embora o consenso do mercado aponte para uma redução do ritmo de alta da Selic”, aponta.
As questões do cenário internacional, conforme Rafael Cardoso, economista-chefe do Banco Daycoval, fazem o BC elencar um maior nível de incerteza. Já no noticiário doméstico, a desaceleração ainda incipiente de uma inflação acima do compatível com a meta.
No comunicado desta quarta, o BC projetou que a inflação para o ano de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,6%. O valor é acima do centro da meta, de 3%, mas se mantém na banda máxima (4,5%) e mínima (1,5%).
“No final da comunicação, quando o Banco Central eventualmente dá forward ele não faz a sinalização para o futuro, o que aconteceu foi que o Banco Central elenca as razões pelas quais ele ainda não vai dar nenhuma sinalização”, diz.
Para riscos de alta da inflação, o Copom destacou a desancoragem das expectativas por período mais prolongado, maior resiliência da inflação de serviços do que o projetado e conjunção de políticas internas e externas.
Já para riscos de queda da inflação foram citados a eventual desaceleração da economia de forma mais acentuada que o esperado, perda de fôlego das atividades globais de forma mais pronunciada e redução do preço de commodities.
“O balanço de riscos deixa de ser assimétrico, e passa a ser mais equilibrado, mas com caudas grossas, tanto risco de baixa quanto de alta. Tem o tom de vigilância — provavelmente para reforçar a estratégia de juros elevados por período prolongado. Quanto a sinalização, deixa em aberto”, diz a economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Natalie Victal.
Cenário global adverso
Tal como esperado, o comunicado tem um peso grande do cenário internacional. Na nota, o colegiado pontuou que o cenário externo está “adverso e particularmente incerto”, sobretudo com a política comercial dos EUA em meio à guerra tarifária.
“A política comercial alimenta incertezas sobre a economia global, notadamente acerca da magnitude da desaceleração econômica e sobre o efeito heterogêneo no cenário inflacionário entre os países, com repercussões relevantes sobre a condução da política monetária”, disse o Copom.
Alexandre Maluf, economista da XP, destaca os adjetivos usados pelo BC na avaliação global e os impactos que os rumos da economia global nos EUA terão nas decisões domésticas.
“O comunicado reconhece que o cenário externo não apenas se mostra adverso, mas particularmente incerto, devido às dúvidas sobre os rumos da política comercial americana, seus impactos na desaceleração econômica global — tanto em questão de timing quanto de intensidade — e os possíveis efeitos inflacionários dessas medidas. Tudo isso naturalmente terá implicações sobre a política monetária global”.
A alta para 14,75% veio em linha com as expectativas do mercado, segundo Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter. Para ela, o comunicado teve alterações em relação à reunião passada, mas foi bastante coerente com a evolução do cenário, ressaltando que a maior incerteza requer maior cautela.
“Os próximos passos ficaram em aberto. No balanço de riscos, também foi retirado a menção sobre a assimetria altista nos riscos para a inflação e o Comitê vê agora riscos elevados para os dois lados. De fato, o cenário externo contribui para uma perspectiva de desinflação maior que o esperado anteriormente, o que pode reforçar a pausa no aperto monetário já a partir de junho”, diz.
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Fonte: CNN Brasil